Depois de décadas de isolamento e de sujeição às estratégias de controle e dominação impostas pela dinâmica do capitalismo internacional os países latino-americanos, há cerca de uma década, vem experimentando um novo processo sócio-político e econômico com o estabelecimento de novas relações de força, tanto internas quanto externas, e a crescente tomada de consciência da necessidade da impostergável integração continental. Mercosul, Pacto Andino, Unasul, Alba e outras coalizões são siglas, antigas umas, novas outras, que indicam o crescente despertar da vontade política dos novos governos empenhados na construção política e econômica de um novo continente possível e necessário.

De Lula a Lugo, passando por Hugo Chávez, Evo Morales, Correa, Tabaré Vasquez e Cristina Kirchner, com o apoio cubano e de vários dirigentes centro-americanos, a maioria dos países da América Latina se encontra profundamente comprometida na busca de uma estratégia maior, nova e alternativa, capaz de promover o estabelecimento de relações econômicas, políticas e culturais, tanto internas a cada país, quanto entre si, distantes dos antigos modelos ditados pelos centros hegemônicos e capazes de responder às necessidades básicas do conjunto de suas populações.
À cinqüenta anos do triunfo e consolidação da revolução cubana e depois de uma década exitosa da experiência bolivariana conduzida por Hugo Chávez, América Latina, com todos os problemas imensos que ainda tem de enfrentar e em meio à crise financeiro-especulativa produzida pelo capitalismo globalizado, se prepara para o estabelecimento de novas condições econômicas e políticas capazes de promover o desenvolvimento real, ético e humano, de seus povos. A presença de cinco Presidentes no recém terminada  8ª edição do Fórum Social Mundial, realizada em Belém do Pará, é um testemunho simbólico, claro e inequívoco, dessa determinação dos povos do continente.

Nesta edição de Tempo & Presença oferecemos aos nossos leitores  algumas análises que mostram a importância dos processos experimentados por alguns países, os quais parecem ter chegado para ficar, estabelecendo novos marcos para o real desenvolvimento da Pátria Grande, sonhada por Bolívar.
Esta edição está dedicada a um outro sonhador de sonhos de unidade e de integração humana: D. Helder Câmara. No dia 7 de fevereiro celebrou-se o centenário de nascimento de quem foi, talvez, na Igreja Católica, e fora dela, o grande catalisador da fé e da esperança do povo. Um bispo que, em nome da justiça e do amor exaradas no Evangelho enfrentou, com simplicidade e determinação, as estruturas opressivas do Estado e da Igreja. A ele as nossas justas homenagens pela inspiração que sua vida nos oferece.
É isso aí.