ELEIÇÕES 2010: PRONUNCIAMENTO DA ALIANÇA DE BATISTAS DO BRASIL
“A Aliança de Batistas do Brasil vem, por meio deste documento, reafirmar o compromisso histórico dos batistas, em todo o mundo, com a liberdade de consciência em matéria de religião, política e cidadania. A paixão pela liberdade faz com que, como batistas, sejamos um povo marcado pela pluralidade teológica, eclesiológica e ideológica, sem prejuízo de nossa identidade. Dessa forma, ninguém pode se sentir autorizado a falar como “a voz batista”, a menos que isso lhe seja facultado pelos meios burocráticos e democráticos de nossa engrenagem denominacional.
Em nome da liberdade e da pluralidade batistas, portanto, a Aliança de Batistas do Brasil torna pública sua repulsa a toda estratégia político-religiosa de “demonização do Partido dos Trabalhadores do Brasil” (doravante PT). Nesse sentido, a intenção do presente documento é deixar claro à sociedade brasileira duas coisas: (1) mostrar que tais discursos de demonização do PT não representam o que se poderia conceber como o pensamento dos batistas brasileiros, mas somente um posicionamento muito pontual e situado; (2) e tornar notório que, como batistas brasileiros, as ideias aqui defendidas são tão batistas quanto as que estão sendo relativizadas.”
Dimensionando a RCC no campo da política: Algumas notas e reflexões
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Rodrigo Portella (Prof. de História e Doutor em Ciência da Religião, J. Fora, MG)
“Penso que, para a reflexão a que se propõe este artigo, é dispensável antepor a ele algum histórico geral da Renovação Carismática Católica (RCC, adiante) e de suas ênfases doutrinárias. Assim, presumo esta questão como de ciência do/a leitor/a destas linhas. Foco no que interessa: as dimensões políticas presentes na RCC, ou até que ponto a RCC, enquanto movimento institucional, ou enquanto representada por seus grupos nas bases, com sua pluralidade e certa autonomia, pensa a questão política e nela insere-se. Antes, uma advertência: a RCC, assim como a Igreja Católica em suas múltiplas dimensões, não perfaz um rosto único, mas é plural em seus variados grupos, comunidades, membros e lideranças. Entretanto, mesmo em meio a tal pluralidade, existem idéias-força que, de uma maneira ou de outra, alinhavam um rosto básico do movimento, inclusive em suas inserções políticas. Vou procurar, portanto, resumir este traço básico”
O pentecostalismo e a política: o fiel da balança?
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Rogério Ferreira do Nascimento (Doutor em Ciência da Religião pela UFJF)
“A presença dos pentecostais na política já não é mais novidade. Desde sua destacada participação em 1986, quando da eleição para a Assembleia Constituinte, ela tem se tornado cada vez mais visível, importante e polêmica no cenário eleitoral brasileiro. Se alguns ramos denominacionais têm encarado a política como verdadeiro campo de “batalha espiritual” e lugar decisivo para sua afirmação religiosa, o que revela o destacado caráter religioso dessa participação política, por sua vez, setores da mídia e alguns analistas de plantão, tem apontado o voto evangélico e pentecostal como decisivo em vários pleitos regionais e nacionais. A avaliação de Ruda Ricce recentemente foi emblemática: para ele o voto evangélico/pentecostal definirá as eleições presidenciais de 2010. Participação apaixonada de um lado, peso político crescente de outro. Seria exagero dessas análises avançar esse tipo de afirmação ou seria isso realidade inconteste? Qual têm sido de fato a marca e o peso da participação política dos pentecostais na arena política?”
Os Neoevangélicos e a participação política
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Messias Valverde (Pastor e Professor no Instituto Metodista Granbery, Juiz de Fora, MG)
“Entre os acontecimentos que envolvem o fenômeno religioso na sociedade brasileira observa-se nas últimas décadas, mais especificamente a partir dos anos 70, uma mudança radical no trato dos evangélicos com as questões políticas, por influência dos neopentecostais.
Em “os pentecostais: entre a fé e a política”, Etiane Caloy e Marionilde Dias ilustram bem esse quadro ao demonstrarem que nas primeiras décadas de existência no Brasil os pentecostais restringiam suas ações ao espaço do templo, e, quando se dirigiam ao meio social o faziam com finalidades estritamente religiosas como: monumentos à Bíblia, inauguração de praças, entre outros”.
Dando a Deus o que é de César: escatologia, pentecostalismo e política em três atos
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Daniel Rocha (Prof. Ms. em Ciência da Religião – PUC-Minas)
“O pentecostalismo, que completa agora o seu primeiro centenário em terras tupiniquins, é bem diferente daquele que aqui chegou pelos idos de 1910. O século passado viu o pentecostalismo transformar-se, de uma expressão religiosa sectária, apolítica e representada por uma fatia quantitativamente irrisória da população, no mais crescente, dinâmico e diversificado segmento do campo religioso brasileiro. Além disso, sua influência não está relegada somente à “esfera espiritual” da vida nacional: o seu apoliticismo característico foi substituído por uma arrojada postura de engajamento eleitoral no sentido de eleger representantes de suas denominações para as esferas de poder político. Esta breve reflexão busca analisar tais transformações do pentecostalismo em sua relação com o contexto sociopolítico, explorando, especialmente, as conexões entre suas convicções escatológicas e sua práxis político-eleitoral.”
De onde vêm os referenciais para uma tomada de posição político-eleitoral?
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Joanildo Burity (Diretor da Fundação Joaquim Nabuco)
Texto II
“No artigo anterior identifiquei e analisei brevemente os procedimentos de definição de referenciais para o discernimento eleitoral no Brasil, a partir de três exemplos do momento atual. Gostaria de aqui discutir alguns daqueles achados e apontar uma alternativa para pensar e discutir. Para manter um mínimo controle de espaço, já que se trata de uma discussão amplíssima, sobre a qual há séculos de debate no campo cristão, atenho-me aos limites do que os documentos referidos revelam. Assim falarei sobre o lugar da Bíblia no discernimento político-eleitoral, a questão da relação com o pensamento de esquerda e o tema da biopolítica na pauta contemporânea das controvérsias públicas. Procurarei me ater exclusivamente ao que seriam as implicações e repercussões desses três temas para o campo evangélico brasileiro. Serei mais programático que expositivo neste momento, deixando os detalhamentos e nuanças para alguma interlocução que estes dois textos venham a gerar.”
De onde vêm os referenciais para uma tomada de posição político-eleitoral?
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Joanildo Burity (Diretor da Fundação Joaquim Nabuco)
Texto I
“Vivemos mais um momento eleitoral e, como tem acontecido com frequência, entre silêncio e pronunciamentos ad hoc e descoordenados, a comunidade evangélica brasileira exibe tanto sua inexperiência com o tratamento de questões públicas – sociais, políticas, econômicas, culturais – como sua irredutível fragmentação ideológica. Uma cultura religiosa assentada fortemente na ideia de que os juízos éticos são derivações diretas de uma leitura leiga da Bíblia, a qual, no entanto, é em grande parte a decantação de uma ideologia missionária dominante no momento de implantação do protestantismo no país, tem dificuldades patentes em lidar com a pluralidade social e cultural brasileira.”
Brevíssimas reflexões sobre as rarefeitas distinções modernas entre política e religião
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Dr. Raul Francisco Magalhães (Prof. no Curso de Ciências Sociais da UFJF)
“Embora possa não parecer este é um micro-ensaio que mira também o Brasil e o tema, sempre lembrado nas eleições, do papel das organizações religiosas nos processos de tomada do poder. A forma de levar essa reflexão é pouco convencional na superfície, mas profundamente ortodoxa na lógica: vai do geral para o particular e daí para considerações prospectivas. O uso da filosofia, mais que dos dados sociológicos, prende-se à necessidade de pensar para além contextos, usando o mundo empírico como provocação e não como realidade inarredável e único lugar de residência da ciência...Os parágrafos que se seguem, a despeito de cometerem, em certa medida, o mesmo “erro” de separar analiticamente uma e outra, pretendem, também em certa medida, sugerir que os olhares sobre a religião e a política podem dispensar a cirurgia de corte e sutura mais comum no desenho do discurso resultante dos dois tópicos.”