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GÊNERO: DA DESIGUALDADE À EMANCIPAÇÃO?
Ano 3 - Nº 8
Abril de 2008
Publicação Virtual de KOINONIA (ISSN 1981-1810)
_Editorial
 

As, cada ano mais concorridas, Paradas Gays, em todo o mundo e, particularmente, no Brasil; os recorrentes, e cada dia mais freqüentes, casos de violência física e moral às mulheres; a multiplicação assombrosa de fatos relacionados à pedofilia; a permanência do estado de subalternidade das mulheres em relação aos homens e a continuidade da discriminação dos homossexuais revelam que, em que pese a luta permanente pela igualdade de gênero, muito ainda precisa ser feito em termos educacionais e formativos para a superação do estigma machista que impede a plena humanização de nossas sociedades.  Sim, a desigualdade de gênero atravessa por igual todas as culturas e consagra uma concepção de mundo fundamentada na primazia do macho que nega o direito de todos os que nela não se enquadram a serem como são. Praticamente, em quase todas as formações culturais, especialmente entre aquelas que cimentaram as bases da civilização ocidental, hoje dominante, a desqualificação e o aviltamento das mulheres e dos homossexuais foi sempre articulada em favor da exaltação e sustentação do poder masculino.  Isto teve e continua tendo conseqüências profundas em todos os âmbitos da experiência humana, dando origem e reproduzindo formas de convivência marcadas pela sujeição da mulher ao homem e pela desqualificação de outras opções sexuais assumidas tanto por homens como por mulheres, em aras da glorificação do macho como a condição ideal dos humanos.

Assim, as visões de mundo e as estruturas de sentido desenvolvidas por quase todas as manifestações religiosas primaram por construir formas de representações simbólicas em que o Sagrado, a expressão do segredo mais profundo da realidade, sempre foi apresentado em termos masculinos.  No caso da civilização ocidental, fundada a partir do amálgama da cultura greco-romana com o cristianismo nascente, a masculinização da vida e da divindade não conheceu limites ao ponto de dar origem e fundamentar a uma falocracia da qual somos vítimas até nossos dias. Exemplo ilustrativo desta concepção está na declaração de S. Jerônimo, um dos mais importantes Pais da Igreja, do século IV que, hoje, nos soa como espantosamente inverossímil: “Enquanto a mulher viver para o parto e as crianças haverá, entre ela e o homem, a mesma diferença que há entre corpo e alma: se, porém, ela quiser servir mais a Cristo do que ao mundo, ela não mais será mulher, e será chamada de ‘homem’.”

Com textos provocantes e surpreendentes as (os) articulistas desta edição procuram mapear, explicitar e discutir algumas das principais questões que agitam hoje as relações de gênero em nossa sociedade, expondo os preconceitos e os desafios que se colocam para o seu adequado tratamento. A partir de diferentes experiências dos problemas abordados e tratando as questões com variados enfoques metodológicos, oferecem-nos uma rica e instigante discussão a respeito da posição de vulnerabilidade que, tanto as mulheres como os homens, estes presos às limitações da assimetria e da hipertrofia de seus papéis sociais, se encontram com respeito à vivência de sua sexualidade, à saúde reprodutiva, à violência de gênero, tanto doméstica como no espaço público, ao racismo e à religião. Chama a atenção neste tratamento da temática de gênero a crítica aos enfoques epistemológicos tradicionais que são objeto de uma provocadora análise que procura relativizá-los revelando seus condicionamentos histórico-culturais.

É isso ai!

 
Publicado em: 27/03/2008