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Em busca de Paulo: como o apóstolo de Jesus opôs o Reino de Deus ao Império Romano. John Dominic Crossan e Jonathan L. Reed. São Paulo: Paulinas, 2007. 423 p.
Não se trata de mais uma obra sobre o apóstolo Paulo. Os autores têm plena consciência, como declaram no prefácio, da novidade de seu texto quanto à forma e ao conteúdo.
Do ponto de vista da forma, por valorizarem sobremaneira os dados arqueológicos, do ambiente físico e da sociedade concreta em que Paulo viveu e desenvolveu sua ação evangelizadora. Do ponto de vista do conteúdo, porque sublinha o objetivo e o público-alvo imediatos da ação de Paulo. Seu objetivo teria sido o de opor à estrutura do Império Romano uma nova visão da sociedade e da história, herdada do judaísmo, baseada não mais no poder de uma elite de cidadãos, mas na justiça e na igualdade efetiva entre todos os humanos.
Seu público imediato, os pagãos simpatizantes do judaísmo, cuja vida e a ação podiam transformar por dentro a sociedade imperial. Como é típico de todo trabalho arqueológico e uma das características de Crossan, um dos autores, o ponto de partida da interpretação são sempre mínimos detalhes, que vão adquirindo importância decisiva à medida que são postos em relação com outros aspectos ou textos. A obra parte da idéia da pax romana, atestada por inúmeros monumentos, que permite sublinhar um relacionamento incomum com a tradição judaica, o que cria uma situação original nas sinagogas, freqüentadas por pagãos simpatizantes do judaísmo, situados entre duas visões da paz universal.
É o que torna compreensível a atuação de Paulo, propondo uma paz fruto da justiça, mas não dependente da lei, que constitui uma bênção para todo o universo e encaminha a humanidade inteira para participação de um mesmo banquete. Um mundo em que predomina a justiça de Deus e que torna irrelevantes as diferenças existentes entre os humanos, judeus ou gregos, homens ou mulheres, grandes ou pequenos.
O universalismo paulino, fruto da justiça, opõe-se ao universalismo romano, em que a paz é entendida como vitória sobre os não-aderentes ao Império. Nesse contexto, percebe-se a atualidade de Paulo, quando o mundo globalizado está sob o poder dominante de um novo Império. O autor se pergunta, finalmente, se a América do Norte é cristã?
Mitos yorubás: o outro lado do conhecimento. José Beniste, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. 303 p.
Mitos Yorubás é mais uma obra do autor consagrado pela qualidade de seus trabalhos sobre a Cultura Religiosa Afro-Brasileira (como As Águas de Oxalá, Jogo de Búzios e Órun-Àiyé: O Encontro de Dois Mundos). Em narrativas fluentes o autor apresenta lendas e mitos que justificam o Candomblé. São 34 histórias que abordam exemplos da vida, orientações éticas e disputas de poder, tendo como personagens os próprios Orixás. Em seu texto, Beniste explica por que Erinlé veste couro; Omolu e Exu te seus assentamentos do lado de fora das casas dos Orixás; o carneiro é a comida votiva de Xangô, mas é repelido por Yansam. Os mitos esclarecem também como a Terra foi criada e por que Oxalá recebe este título; esclarecem sobre a importância e o perigo de Iya mi Oxoronga e o culto Egungun; decifram a história completa do Xangô e a sua disputa com Ogum pelo amor de Yansam; explicam a obrigação de Exu em fiscalizar os axés, provocar Orunmilá e criar conflitos entre Yemanjá, Oxum e Yansam. "O que deve ser entendido é que há sempre um mito, um exemplo capaz de justificar qualquer teoria e qualquer prática, e que não de ser interpretado como curiosidade científica, mas sim como o reviver de uma mentalidade primordial. Nas civilizações africanas, o mito desempenha uma função indispensável", escreve o autor na apresentação. "Nenhum povo e nenhuma cultura formam-se como realidade histórica sem imagens e sem símbolos, sem teologia capaz de definir e sustentar os valores morais e religiosos, sem organização social e política; enfim, sem uma visão definida de mundo. O mito é essencialmente uma revelação e é desenvolvido para sustentar a crença religiosa." Dessa forma, em Mitos Yorubás, José Beniste oferece ao leitor histórias deliciosas, encantadas por um estilo didático, que segue uma linha de publicações claras, fluentes, tornando o nome do autor bastante expressivo nos meios religiosos como um participante íntegro e pesquisador altamente conceituado do Candomblé. Ao final da cada narrativa, algumas observações estão contidas em notas explicativas, objetivando uma compreensão melhor e mais ampla sobre o assunto.
NR: Os textos utilizados nesta seção são produzidos pelas editoras ou pelos autores e autoras.
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