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60º ANIVERSÁRIO DE ORGANIZAÇÃO DO CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS
Ano 3 - Nº 12
Setembro de 2008
Publicação Virtual de KOINONIA (ISSN 1981-1810)
_Editorial
 

Por ocasião da celebração oficial do 60º aniversário de criação do Conselho Mundial de Igrejas, na Catedral de S. Pedro, em Genebra, o Arcebispo de Constantinopla e Patriarca Ecumênico da Comunidade Ortodoxa Oriental, Bartolomeu I, declarou em sua homilia: “Os laços de amizade entre as igrejas divididas e as pontes lançadas para superar nossas divisões são indispensáveis, muito mais agora do que antes.” Esta edição de Tempo & Presença é dedicada a mais este aniversário de organização do CMI. Memória, avaliações e prospectivas perpassam os textos dos autores convidados a colaborar com suas reflexões ao empenho de KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço pela causa da unidade das comunidades fé. Esta proposta de unidade, cujo alcance extrapola, em muito, a unidade das instituições eclesiásticas, tem suas raízes no século XIX e contou, desde então, com uma vigorosa participação de jovens estudantes e leigos inconformados com os estreitos limites da vida institucional de suas igrejas e preocupados com o exercício de um testemunho cristão pró-ativo num mundo em profunda desordem.

No dia 23 de agosto de 1948, na cidade de Amsterdã, na Holanda, representantes de 147 Igrejas européias e norte-americanas, de tradição protestante e anglicana, reunidos em assembléia, deram forma a uma associação fraterna e cooperativa de Igrejas.  Esta decisão já havia sido tomada 11 anos antes, em 1937, por parte dos representantes de dois significativos movimentos eclesiásticos que agitaram a vida das igrejas do hemisfério norte, especialmente, depois do término da 1ª guerra: o Movimento de Fé e Ordem e o Movimento de Vida e Trabalho. A iminente eclosão da 2ª guerra obrigou a postergação do planejado evento.  Desde então o CMI procurou responder às principais crises e desafios vivenciados pelo mundo moderno e a crescente adesão de Igrejas (hoje são 349 igrejas-membro que inverteram a situação inicial, pois a maioria agora está no hemisfério sul) e de organismos ecumênicos nacionais e regionais/continentais trouxe uma dinâmica especial ao exercício de sua vocação. Como é óbvio, o Movimento Ecumênico desborda, e muito, os limites institucionais do CMI, ainda que nele tenha uma de suas principais formas de articulação. Esta se dá tanto em relação às grandes questões que afetam a vida dos povos como na condição de uma espécie de avalista da coerência interna do movimento.

Durante seus sessenta anos de existência quatro grandes realizações foram decisivas para a operacionalização dos propósitos do CMI. A primeira se refere ao processo de diálogo teológico-doutrinário entre as diferentes tradições eclesiásticas que nele convivem e que resultou na “Declaração sobre Batismo, Eucaristia e Ministério” que provocou novas formas de ordenamento litúrgico em muitas igrejas e aprofundou o relacionamento fraterno entre elas. A segunda tem a ver com a inspiração conduzida pelo CMI que levou muitas igrejas a participarem de forma decidida na luta pela justiça, pela paz e pela preservação do meio-ambiente.  O “Programa de Combate ao Racismo”, que muito contribuiu para o fim do apartheid na África do Sul e a luta pela afirmação e promoção dos Direitos Humanos, especialmente na América Latina durante o período das ditaduras militares, deixaram marcas indeléveis na vida de ação e testemunho de um considerável número de igrejas. Uma terceira e importante inflexão do CMI foi a promoção, em conjunto com o Conselho Pontifício pela Unidade Cristã da Igreja Católica Romana, depois do Concílio Vaticano II, da “Semana de Oração pela Unidade”, que tem levado as igrejas locais a experimentarem momentos de profunda amizade e companheirismo a despeito das diferenças que as separam.  Uma quarta contribuição importante, e que se desenha como decisiva no contexto do século XXI, foi o reconhecimento da importância e da necessidade de implementação do diálogo inter-religioso como uma iniciativa impostergável para o estabelecimento da paz no mundo.

Entretanto, a marcha do Movimento Ecumênico e o desenvolvimento e afirmação do Conselho Mundial de Igrejas não se processou sem tensões, crises e, muitas vezes, entraves. Os mesmos problemas de ordem sócio-econômica, política e cultural que afetam as relações no interior das sociedades se repetem no âmbito das igrejas. O diálogo nem sempre é fácil. Aliás, é sempre difícil. Os interesses que se movem na sociedade se repetem no concerto eclesiástico tencionando, às vezes profundamente, as relações ecumênicas. Os articulistas desta edição deixam isto muito claro, especialmente, quando abordam a situação atual do Movimento Ecumênico, a postura política das igrejas com seus enfoques diversificados sobre a realidade de seus países e do mundo e sua leitura particular acerca do que deve ser a comunhão ecumênica. O Conselho Mundial de Igrejas reflete essa situação.

Merece um destaque especial nesta edição a entrevista que foi concedida a Tempo & Presença pelo teólogo, cientista da religião e, por longo tempo, dirigente do CMI, Dr. Júlio de Santa Ana, a quem muito agradecemos pela solícita disponibilidade em nos atender.

É isso aí.
 
Publicado em: 23/09/2008