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MÍDIA SACRALIZADA E RELIGIÃO SECULARIZADA
Ano 4 - Nº 15
Abril 2009
Publicação Virtual de KOINONIA (ISSN 1981-1810)
_Artigos
 
A aliança entre a religião e a mídia
Por: Karla Regina Macena P. Patriota

1. Introdução

Na análise da realidade religiosa contemporânea, a constatação que parece saltar aos olhos é de uma vitalidade pulsante, após um período em que se anunciava uma modernidade governada, em grande parte, pela razão científica e técnica, e que se estruturava nomeadamente pela secularização e, por conseguinte, pela a-religiosidade. Hoje, inseridos no século XXI, observamos que, de fato, a ciência e a tecnologia moderna evoluíram de tal forma, que se tornaram parte essencial do cotidiano da maioria dos habitantes do planeta, fazendo com que as pessoas, mesmo as de menor poder aquisitivo, tenham um grau de informação inimaginável 100 anos atrás.
Entretanto, apesar de todas essas mudanças e contradizendo as previsões anteriores do “fim da religião 1”, apesar do avanço da secularização, especialmente no campo da economia e da política, do visível processo de desencantamento do mundo 2, a religiosidade dos últimos tempos é manifesta intensamente na vida privada das pessoas, em formas afetivas e emocionais, sem referência à doutrina ou à instituição eclesiástica. O fenômeno religioso em curso sobrepujou a categoria de “religião perdida” para o “religioso por todas as partes”.
Com efeito, parece-nos à primeira vista, que a religião teria voltado, com ânimo total, à conjuntura política no seio das sociedades ocidentais, evidenciando o investimento religioso na mobilização política e cultural por meio de novos movimentos sociais e dos diversos movimentos religiosos. Para alguns pesquisadores da religião, tal fato vem, notadamente, contrariar a idéia de uma modernidade “racionalmente desencantada”. (JURKEVICS, 2004).
Um dos aspectos mais evidentes dessa notada revitalização religiosa é a grande ênfase na mídia brasileira, impressa e televisiva, principalmente no final da década de 90, quando se procedeu a uma ampla cobertura acerca dos números divulgados pelo Censo do IBGE que apontavam para o surpreendente avanço neopentecostal 3: 300% nos últimos trinta anos 4. Com este avanço numérico também se observa as inúmeras formas de propagação midiático-religiosas que invadem o cotidiano moderno e multimidiático, na mesma medida em que intensifica a forma-espetáculo da cultura da mídia. Assim, vemos o despontar da vida religiosa também ser cada vez mais moldada pelo espetáculo. São incontáveis horas de conteúdo religioso presente nas telas da mídia, que apresentam não apenas os grandes momentos da vida comum recheados de representação, mas proporcionam também material ainda mais farto para as fantasias e sonhos, modelando o pensamento, o comportamento, as identidades e a própria religiosidade.
Entendemos, portanto, que o processo contemporâneo de revitalização da religião, no caso da nossa reflexão, particularmente na mídia, decorre do próprio processo de propagação, privatização e subjetivação dela, sendo manifesto não apenas no desenho do sujeito religioso autônomo, com a possibilidade de escolher livremente a filiação religiosa e o consumo religioso que lhe pareça melhor 5, mas também se revela nos contornos do agente religioso, que agora necessita empreender um maior esforço pela manutenção e conquista dos fiéis, uma vez que não dispõe mais de uma clientela automaticamente constituída. Com isso, a dinâmica da “preferência do consumidor”, inicialmente estabelecida no setor comercial, torna-se a mola propulsora da religiosidade moderna.
Por isso, contemplamos na imensa quantidade de apelos “religioso-espetaculares”, principalmente os midiáticos, a necessidade estratégica das igrejas contemporâneas em oferecerem produtos/serviços religiosos que atendam às demandas dos sujeitos religiosos, sob pena de perderem o “cliente” para seus concorrentes “diretos” e “indiretos” – já que a religião contemporânea (principalmente a que se utiliza da mídia) também concorre com as empresas tidas por “profanas” – tais instituições concorrentes podem apresentar ofertas visivelmente mais atrativas para o target religioso, cuja essência secularizada os impele a buscar a satisfação de necessidades pessoais, comumente imediatas e efêmeras, inclusive de entretenimento.
Dessa forma, levando em conta o que expusemos acima, a nossa reflexão pretende analisar a religião exposta na mídia como a versão mais adequada e abrangente para espelhar a religião da modernidade e o ajustamento de suas práticas, ethos e discursos à sociedade contemporânea. 

2. A comunicação Religiosa
A tarefa da Igreja cristã sempre foi muito clara nos seus parâmetros. A teologia judaico-cristã foi completamente ancorada na missão de comunicar a Boa Notícia que vem de Deus. Tão somente porque, para tal missão ela foi criada e é essa a tarefa que respalda a sua existência até hoje.
Quando mencionamos a preocupação da igreja cristã com a propagação desse evangelho de salvação, salientamos que tal atividade comunicacional tem sido feita há séculos, utilizando diversos suportes, que foram da forma direta de comunicação interpessoal, por meio do testemunho partilhado a outra pessoa ou na pregação perante um grupo, até a sua ampliação pela comunicação escrita, música e artes plásticas, que se constituíram em canais de comunicação extremamente otimizados, em especial pela Igreja Católica Romana. Contudo, nos dias de hoje, a mídia, principalmente a televisiva, mostra-se como o mais novo horizonte visível de propagação para a mensagem religiosa.
Ou seja, na contemporaneidade, a comunicação religiosa assumiu novos contornos com a utilização dos meios de comunicação massiva. Hoje as igrejas encontram-se irremediavelmente submersas numa parafernália de símbolos e apelos midiáticos, e mergulhadas na aberta permissão para a existência de uma, por vezes, “incômoda” pluralidade religiosa. Assim, a comunicação nos mass media passa a ser adotada nas diversas denominações religiosas com muita facilidade, e normalmente é vista como um instrumento eficaz no competitivo mercado religioso.
Por isso, deparamo-nos com inúmeras igrejas em constante busca por amplos terrenos midiáticos. Trata-se, inclusive, de uma estratégia para garantir suas existências sociais, através da visibilidade projetada, principalmente, pela televisão. Em paralelo encontramos os meios de comunicação de massa abrindo, cada vez mais, suas portas para uma programação de cunho religioso, o que na visão de Klein (2006, p.199), lhes rende dupla vantagem: “auferir lucros com a venda de espaço e de se justificar dos pecados da transmissão de conteúdos moralmente condenados pelas diversas denominações religiosas”.
Em paralelo, a comunicação religiosa assume um sentido e um significado nos termos das relações sociais que a originam, nas quais ela se integra, e sobre as quais ela pode influenciar. Por este motivo, os meios de comunicação, tanto impressos quanto eletrônicos, têm sido veículos de grande importância na difusão e sustentação de várias religiões no Brasil e no mundo. E nesse contexto, podemos perceber a ampla utilização, por parte dos cristãos, dos meios de comunicação disponíveis.
As pesquisas de audiência, ao listarem a programação disponível, comprovam que as televisões e as rádios brasileiras estão abarrotadas de programas religiosos, em sua maioria, programas cristãos. Isso sem mencionar as emissoras de propriedade de denominações religiosas. Atualmente, no Brasil, diversos programas religiosos são veiculados diariamente em canais abertos e em TVs por assinatura. Dessa forma, não se trata simplesmente da presença constante de uma propaganda ideológica no sentido estrito do termo, mas de uma nova forma de se anunciar a fé cristã, através da aberta possibilidade de utilização dos meios de comunicação de massa.
A verdade é que hoje, contemplamos uma humanidade conectada pela palavra, bombardeada por uma multiplicidade de sons, imagens, signos e mensagens. Em todas as esferas do nosso cotidiano esta é a realidade. Segundo João Paulo II, é uma revolução
cultural que acabou fazendo dos meios de comunicação de massa o “primeiro areópago 6 da idade moderna” (RMi, 37) 7.
Por conseguinte, a utilização dos recursos midiáticos pelas igrejas faz com que conteúdos religiosos emitidos se fragilizem perante uma sociedade saturada de apelos comunicacionais. Há uma acirrada concorrência da mensagem religiosa com outros conteúdos simbólicos divulgados pela mídia, caracterizando um “cardápio” de opções diversas e variadas.
O fato é que a aliança firmada entre a religião e a mídia é algo verificado em larga escala e nos traz a possibilidade de contemplação de mensagens religiosas em forma de “concertos espetaculares”. Missas e cultos se tornam cada vez mais parecidos com shows televisivos de auditório, nos quais a interação com a platéia existe e se reproduz de forma similar aos programas “seculares”. Sendo assim, os líderes religiosos, por conta da formatação espetacularizada das transmissões de cultos e missas, estruturam suas falas de modo a interagir, exatamente como qualquer apresentador de TV em meio às luzes, brincando com os fiéis, contando histórias e até piadas, em um claro esforço para não perder a atenção dos espectadores do “show”.

3. O discurso religioso na mídia
Não podemos desconhecer ou minimizar a presença dos diversos setores das igrejas católicas e protestantes, que se articularam na aquisição de poderosas redes de comunicação com as mais peculiares finalidades, que vão desde a "comercialização da fé” até a difusão do Evangelho.
Todavia, é no seio das igrejas neopentecostais que existem aquelas que mais se utilizam da mídia, sobretudo da eletrônica para a propaganda religiosa. As mensagens têm apelos diversificados. É o que Sílvio Santos, num debate na ECA/USP, chamou de "indústria da fé". Trata-se de uma autêntica propaganda religiosa dirigida às massas, com apelos nem sempre éticos quanto à veracidade dos milagres anunciados.
As igrejas neopentecostais ganham destaque entre os protestantes por meio do visível crescimento numérico, que é mensurado hoje, tanto nos meios de comunicação, quanto na produção acadêmica sobre o protestantismo. Tal fenômeno é percebido porque as denominações neopentecostais dirigem seus cultos e suas pregações às massas. Assim, utilizam diversos meios de comunicação como o rádio, a TV ou a mídia impressa, recebendo em contrapartida, uma grande adesão do público atingido. Com efeito, essa desenvoltura deve-se, essencialmente, aos muitos programas de rádio e televisão veiculados na atualidade.
Em vários deles, as ênfases mais convincentes ficam por conta dos anúncios de curas fantásticas e de diversos milagres. Contam com uma considerável audiência que acaba por ser recrutada para dentro de suas igrejas. A sistemática utilizada dos testemunhos é contundente, inclusive, alguns programas reproduzem, através de dramatização, toda a história do testemunho considerado vitorioso e isso, certamente, encoraja outros a tomarem o mesmo caminho em busca de resultados semelhantes.
Em outros casos a ênfase é diversional. O mundo do show business é instaurado na propagação religiosa. Recursos espetaculares à disposição da religião se adaptaram e se renovaram magistralmente. Isso se dá tanto em termos do conteúdo, quanto da forma, peculiares, portanto, aos respectivos meios comunicacionais utilizados na esfera religiosa.
Esse reflexo é sentido na concepção comunicativa e midiática dos meios seculares, amplamente utilizados pelas igrejas e que inspiram mutuamente o conteúdo da mensagem propagada: a experiência midiática produz eco na difusão religiosa. Tudo parece ser feito para produzir espetáculo, até o anúncio da “salvação” em Jesus Cristo.
É bem verdade que ao utilizar com maior força a televisão, os especialistas em comunicação contratados pelas igrejas midiáticas sabem que, no que se refere ao conteúdo, o material produzido para a TV, deve ter, fundamentalmente, além de atrativos, um caráter simplista e simplificador. Por isso, é abundante a oferta de conteúdos pseudo-religiosos televisivos superficiais, emotivos e sustentados no voyeurismo instaurado na contemporaneidade, no deslumbramento das estrelas e no narcisismo. Ou seja, quanto mais visual, maior será a chance de certo conteúdo ser veiculado com sucesso e audiência no meio televisivo. Boa parte da programação religiosa hoje parece apenas seguir a lógica do mercado capitalista. O objetivo é o lucro. Atrair a audiência dos telespectadores.
No geral, a comunicação midiática, tem estabelecido com o sagrado um diálogo interessante. Tal diálogo está presente em uma relação inovadora que ocorre muitas vezes pela possibilidade de escolher, através da mídia, adquirir produtos ou formas religiosas que melhor se ajustem às necessidades individuais de cada “fiel”. Alguns estudiosos das religiões começam a comparar esta nova forma de relacionamento, com o procedimento dos consumidores em um supermercado. Nesse “supermercado da fé”, as pessoas podem avaliar as qualidades, as vantagens e os benefícios de cada denominação, em seguida adquirir uma ou mais de uma, das que estão disponíveis.
Por outro lado, tal cenário mercadológico evidenciou as fragilidades quanto à fidelidade denominacional – o que tem feito com que os líderes religiosos travem uma verdadeira batalha entre si. Esse embate se dá necessariamente no campo discursivo e o lugar mais propício para a exposição das características de cada religião são os meios de comunicação de massa. Na mídia, os produtos religiosos e a própria religião, são cuidadosamente apresentados em uma atraente embalagem. Isso ocorre mesmo quando a produção midiática não é extremamente profissional. O embate travado no campo discursivo se materializa nas estratégias argumentativas dos sermões, na emocionalidade que aflora à pele e nos depoimentos que permitem a identificação com a vida de outros ouvintes ou telespectadores.
Trata-se, portanto, da inovação de um diálogo mercadológico, que acarreta na “mundanização do sagrado”, já que é possível ver o acelerado e surpreendente crescimento de novas e diversas formas de apresentação do “sagrado” através do discurso religioso veiculado na mídia. Tal discurso avança e desafia as formas religiosas tradicionais, consideradas hoje, ultrapassadas.

4. Os frutos da religiosidade midiática – Considerações finais
Segundo o ISER – Instituto de Estudos da Religião, o crescimento religioso viabilizado também pela mídia tem sido tão grande que, apenas em um estado como o Rio de Janeiro, se chega a abrir cinco igrejas por semana.
Tal massa de indivíduos religiosos que cresce espantosamente, em média, 7% ao ano, é hoje totalizada em 26 milhões de pessoas classificadas e agrupadas em centenas de denominações diversas, formando uma nação de cristãos que equivale, em quantitativo, à soma das populações da Bélgica, Dinamarca e Finlândia. Destes indivíduos, 75% agrupam-se denominacionalmente no pentecostalismo, com uma grande parcela inserida na subdivisão neopentecostal, muitos retirados, é bem verdade, dos bancos da igreja católica.
Dessa forma, entendemos que o grande diferencial das igrejas midiáticas é a própria segmentação do público e a elaboração de um discurso fácil de ser circunscrito e
aceito pelas massas. A esses públicos de níveis sócio-econômicos variados e segmentados, diversos discursos são oferecidos. Sempre haverá, na comunicação midiática das igrejas eletrônicas, o oferecimento de uma lógica discursiva que ajudará os fiéis que a elas aderirem, a possibilidade de entretenimento ou solução dos problemas do dia-a-dia, além de ensiná-los a traçar metas ambiciosas a longo prazo.
Diversas igrejas contam com redes de TV e rádio espalhadas pelo país, tão somente porque as mensagens religiosas veiculadas nos meios de comunicação têm sido um forte instrumento de captação de novos adeptos e mais recursos financeiros, fazendo com que as igrejas que deles se utilizam, experimentem nos últimos anos um crescimento na ordem de 100% no número de fiéis. Como maior expoente desta categoria, temos a Igreja Universal do Reino de Deus, dona da Rede Record e de milhares de templos no Brasil e exterior.
Portanto, após a análise do panorama religioso midiático, o que se verifica é que o diálogo veiculado nos meios de comunicação de massa tem estabelecido um próspero relacionamento entre religiosidade e campo midiático. A nosso ver tal relacionamento ancora-se no amplo e crescente processo de midiatização das instituições, que hoje estão subordinadas a uma produção de discurso semelhante aos discursos estruturados no campo dos medias.
Em paralelo, vemos o campo midiático tomar para si um novo papel na construção e propagação das novas formas de religiosidades. Em tal conjuntura, segundo Fausto Neto (2001) duas questões se destacam: a primeira abarca as estratégias telemidiáticas, católicas e neopentecostais, ampliadas ao longo dos últimos anos e o recurso a gêneros discursivos da esfera midiática. A segunda, ainda de acordo com o autor, faz referência às tensões e negociações que campos sociais midiáticos e não midiáticos alargam para a construção e publicização de acontecimentos que se produzem no mundo da religião, e que, por força de suas ressonâncias culturais, atravessam a esfera das mídias.
Nesse caso, o discurso religioso assume visivelmente os ares do discurso midiático. Os dois discursos se caracterizam na forma de discursos de poder, já que eles não ocorrem fora dos meios de comunicação, para isso, a própria mensagem religiosa incorpora-se aos desejos dos espectadores. Prega-se o que os consumidores-alvo anseiam. Promete-se o que os clientes potenciais precisam. E assim, cria-se uma relação contratual entre “anunciante” e mass media.
Dessa forma, o discurso religioso/midiático, na maioria das vezes, serve para reforçar significações já estabelecidas, principalmente na sociedade de consumo em que
estamos submersos. Basicamente, os princípios parecem ter permanecido, porém os invólucros mudaram consideravelmente. O ascetismo que era exaustivamente pregado no catolicismo e protestantismo tradicionais cedeu lugar ao hedonismo. Em vez de oporem-se ao mundo, que antes era considerado como um verdadeiro ninho de pecados, agora se propõe a integralização a ele. O fato é que as mensagens religiosas adaptaram-se aos tempos da comunicação massiva e geraram o maior vetor de ajustamento sócio-religioso de todos os tempos.


Por fim, debruçar-nos sobre os programas religiosos midiáticos nos faz perceber que foi instituída uma peculiar aliança entre a mídia e a religiosidade contemporânea. Tal pacto, como defende Klein (2006) resulta no aparecimento de dois fenômenos híbridos: o primeiro é a contaminação da mídia pelo universo religioso, com os abundantes conteúdos religiosos veiculados nela. Já o segundo, é o consumo e a experiência de absorver uma religiosidade midiática que se constrói a partir de um discurso que ressalta o tempo todo a sua função como tal, mas que se orienta esteticamente pela cultura de massa, provendo conteúdo capaz de disputar em “pé de igualdade” com a audiência de qualquer programa secular.

Karla Regina Macena P. Patriota, doutora em Sociologia e mestre em Comunicação pela UFPE, professora do PPGCOM da Universidade Federal de Pernambuco.

Referências Bibliográficas
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Novas Religiosidades
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Talvez a previsão mais propagada do fim da religião seja a de Karl Marx (1844). Para Marx, a religião só poderia continuar a existir numa situação marcada por uma completa alienação. Caso a alienação desaparecesse, possibilitando uma sociedade livre, sem opressores, (quer fossem eles capitalistas, burocratas ou quaisquer outros em superioridade hierárquica), desapareceria também a religião. Para ele, a religião era a consciência e o sentimento a respeito de si mesmo, naquele homem que ainda não se encontrou, ou que tornou a se perder.

Weber (1972) ao afirmar que o mundo moderno se desencantava não o fez no sentido de que tal mundo perdia sua religiosidade; mas sim de que ele se desencantava uma vez que perdia sua magia. E religião e magia, definitivamente, não são a mesma coisa. Afinal, alguém que vive na modernidade pode ser consideravelmente religioso e, ainda assim, não acreditar que o botão que ele aperta para acender a luz faça qualquer mágica ao se produzir luz, mesmo que este homem não entenda de física ou eletricidade o suficiente explicar o surgimento da luz na lâmpada que foi acesa.

A dissertação de Ricardo Mariano (1995) e o artigo de Mariz (1995) oferecem uma detalhada descrição e definição do neopentecostalismo (também conhecidos como “pentecostalismo autônomo”), além de um apanhado de trabalhos acadêmicos em que foi abordado. Mariano (Ibid: 28) aponta três características dessas igrejas: “1) ênfase na guerra contra o Diabo e seu séquito de anjos decaídos, identificados principalmente aos cultos afro-brasileiros e espíritas; 2) pregação e difusão da Teologia da Prosperidade; 3) liberalização dos estereotipados usos e costumes externos de santidade”. Bittencourt Filho (1994) fala na tríade “cura, exorcismo e prosperidade”.

Considerando-se que nos últimos 30 anos, o neopentecostalismo crescente no Brasil é fruto de uma conjuntura sócio-cultural peculiar, cuja face mais expressiva é a significativa transformação confessional de boa parte da população, chegamos a conclusão de que essa recente manifestação religiosa tem afetado toda a sociedade brasileira. Afinal, tal corrente religiosa cresce a todo vapor, não apenas nas camadas mais baixas da população, como foi enfatizado por tantos estudos passados, mas também verificamos hoje uma novidade dentro desse campo que é a sua expansão nos estratos médios e altos da população.

Segundo Hervieu-Léger (1999) esta construção individual de uma religiosidade “customizada” de contornos próprios e totalmente autônoma, tem sido chamada de "bricolagem", ou simplesmente: uma religiosidade do "faça você mesmo".

Lugar onde o apóstolo Paulo pregou aos gentios gregos.

Informação obtida no site: www.pime.org.br/piment/missãojovem/mjcomunareopagos.htm, consultado em 17.07.02