A morte do ministro Dassanayaka no dia 8 de janeiro* deste ano é, infelizmente, apenas mais um capítulo dessa novela da vida real em que vive esta pequena ilha do sul da Ásia. Politicamente complexo com seus 102 ministérios; religiosamente contraditório com seus Monges Budistas engajados na guerra e etnicamente sangrento com mais de 5.000 mortos nos últimos 18 meses, o Sri Lanka caminha a passos largos em direção a um conflito ainda maior.
Com mais de 20 milhões de habitantes o país possui uma economia que nos anos 90, apesar da guerra, crescia em media 5% ao ano. O reinício, em agosto de 2006, desta guerra civil que já dura mais de 25 anos, vem escrevendo uma das páginas mais difíceis da história desse país, considerado por muitos uma das melhores destinações turísticas do mundo - com praias paradisíacas e construções seculares, como o forte Português no norte da ilha, na península de Jaffna. No entanto, o retorno ao conflito armado entre o exército do Sri Lanka e os Tigres Tameis põe uma vez mais em declínio a economia do país, com o aumento da inflação e do desemprego.
Isto acontece após uma trégua de mais de quatro anos negociada sob os auspícios do Governo da Noruega, entre o Governo e os Tigres Tameis, também conhecidos como Tigres Libertadores da Terra Tamil (LTTE, em Inglês), um movimento armado que luta pela independência do norte e do leste da ilha, majoritariamente habitados pela etnia Tamil. Nesse momento, devido à intransigência dos dois lados em negociar, a presença da ONU e demais organizações humanitárias está restrita a ajuda as vítimas da guerra; pessoas que perderam tudo (casa, trabalho, e muitas vezes membros da família), assim como algumas vítimas da Tsunami que ainda não tiveram suas casas reconstruídas devido à longa interdição em transportar materiais de construção as áreas controladas pelos Tigres (e o receio de que estes materiais seriam utilizados em instalações militares).
A Tsunami, que destruiu parte da costa leste e sul do país, também trouxe um esforço de reconstrução e união nacional jamais visto na história recente desta pequena ilha do sul da Ásia. No entanto, todos os esforços postos em pratica para a reconstrução do país foram drasticamente esquecidos com o recomeço das hostilidades entre o LTTE e o SLA (Exercito do Sri Lanka), em agosto de 2006 e as vítimas das atividades militares decorrentes dessa nova guerra, juntando-se às mais de 30.000 vitimas fatais da Tsunami, transformam este novo milênio em mais uma época de sofrimento, e perdas após a vaga esperança de que os acordos de paz viriam a ser respeitados, pondo fim a um conflito que desde 1975 já ceifou mais de 70.000 vidas.
O anúncio feito pelo governo, no dia 2 de janeiro, de abandonar definitivamente o acordo de paz, reforça a perspectiva de que dias piores virão e que a dor e a destruição causada pela Tsunami, que destruiu parte da costa Sri lankense em dezembro 2004, será superada por uma nova guerra com conseqüências trágicas, uma vez mais, para a população civil.
Gerson Brandão, funcionário da Organização das Nações Unidas, Chefe do Escritório de Coordenação da Ajuda Humanitária no Norte do Sri Lanka
* DM Dassanayaka era o ministro cingalês da Construção Nacional e morreu em conseqüência de atentado atribuído aos Tigres Tameis. O comboio em que se encontrava foi atingido por uma bomba.