Socializamos o terceiro número do boletim virtual Drogas Violência no Campo. Registramos que houve um primeiro encontro do Conselho Editorial para a discussão dos temas a serem abordados neste ano de 2006. Esperamos que os temas discutidos neste e nos próximos números sejam um elemento a mais para o aprofundamento teórico e para o fortalecimento político na busca de um paradigma democrático, justo e, sobretudo, humano para a política nacional de drogas. Até o momento, o que assistimos é o recrudescimento da criminalização das classes subalternas e dos territórios nos quais elas vivem. O efeito absurdo do processo é a eliminação de vidas juvenis nas periferias dos centros urbanos e nas brenhas dos sertões brasileiros.
Como se sabe, há poucos estudos sobre a questão camponesa da economia das drogas no Brasil. Faltam estudos históricos, que avaliem, por exemplo, como a coca-epadu se estabeleceu como elemento vital nas culturas ameríndias da Amazônia. Do mesmo modo, inexistem estudos sobre como, no período colonial, as diversas tentativas do cultivo do cânhamo espalharam a cannabis sativa em todas as regiões brasileiras - iniciativas das quais a mais famosa é a Feitoria Real do Linho Cânhamo, na atual São Leopoldo, RS. Faltam mais estudos antropológicos sobre a cultura da cannabis e o Nordeste brasileiro. Além de faltarem estudos sociológicos sobre os usos e costumes dos mais diferentes grupos de trabalhadores da economia política das substâncias qualificadas como ilícitas, bem como dos usuários. Esta lacuna, também, procura suprir este boletim.
Nessa ocasião temos notícias sobre o cultivo da maconha e sua distribuição no Pará, em Pernambuco, na Bahia e no Paraguai. Nelas podemos ver como o financiamento da produção de substâncias qualificadas como ilícitas acaba propiciando que políticos locais possam construir sua fonte de financiamento por meio dessa atividade. Além disso, vemos a Polícia Federal admitir a impossibilidade de concretizar a erradicação absoluta de cultivos qualificados como ilícitos.
Compartilhamos, também, na perspectiva da discussão sobre a criminalização de territórios e grupos sociais, dois estudos. O primeiro, de 1999, de Rebeca Steiman, do Instituto de Geociências/Ufrj, analisa a geografia das drogas no Brasil e, em especial, o Submédio São Francisco. O segundo, de minha autoria, sobre a identidade do jovem camponês sertanejo nordestino, em específico, aquele que participa do cultivo da maconha.
Finalmente, reproduzimos a revisão da entrevista que foi realizada com o Dr. Maurício Gusmão Jr., de Petrolândia, já socializada no número anterior. Em respeito e agradecimento ao Dr. Maurício, que gentilmente fez a revisão da própria entrevista, a re-inserimos no número anterior e socializamos, uma vez mais, nesta terceira edição do Boletim – para facilitar o acesso de quem o vê pela primeira vez, e pela pertinência da territorialidade que trata.
Boa Leitura!
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