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BENTO NO BRASIL
Ano 2 - Nº 4
Julho de 2007
Publicação Virtual de KOINONIA (ISSN 1981-1810)
_Editorial
 
Esta edição recolhe algumas reflexões acerca da visita do Papa Bento XVI ao Brasil. Três analistas católicos, dentre eles uma mulher, e uma observadora pentecostal oferecem, de diferentes ângulos, elementos significativos para uma avaliação consistente e realista dos propósitos político-eclesiológicos revelados por esta visita do primeiro Papa eleito neste século a, até aqui considerada, a maior nação católica do planeta.

Em contradição com esse lugar comum que povoa nosso imaginário social, alguns comentaristas que acompanharam a trajetória do Papa (restrita, aliás, ao Estado de São Paulo) destacaram o fato (novo) de o Brasil ter deixado de ser a maior nação católica do mundo para transformar-se na maior nação do mundo católico. Diferença sutil apenas na aparência, dando até impressão de um mero jogo de palavras. Trata-se, no entanto, de uma nova realidade revelada pela perda continuada de adeptos do Catolicismo Romano para outras agremiações religiosas , especialmente aquelas do chamado “universo pentecostal”.

Sem o carisma midiático criado e exercitado por seu antecessor e estribado numa visão de mundo e uma concepção de igreja que não mais respondem às condições da experiência humana hodierna, a visita de Bento XVI, morna e apenas simpática, convenceu e alegrou seus pares, mas não provocou impacto nem reacendeu as esperanças de se ver, sob sua liderança, uma igreja mais preocupada com a sociedade em crise em que vivemos, do que consigo mesma.

Os articulistas desta edição são unânimes em destacar o empenho de Sua Santidade na promoção do tradicional modelo eclesiológico representado pela Sé Romana e sua busca por recuperar a posição de hegemonia absoluta do Catolicismo no interior do campo religioso brasileiro. Destaques ilustrativos dessa dupla intenção são apontados em seus diversos pronunciamentos como, por exemplo, o tratamento acintoso de “seitas” para as igrejas populares do mundo pentecostal revelando, com isso, uma total falta de abertura ecumênica e, por outro lado, uma enorme insensibilidade para o diálogo fraterno com as outras formas de vivência religiosa presentes e atuantes no interior da cultura brasileira.

Para as muitas comunidades cristãs envolvidas com o movimento ecumênico as manifestações de Bento XVI significaram um congelamento dos avanços alcançados até agora. E mais, como a proposta ecumênica também é controversa nos ambientes não-católicos elas significaram, também, o acirramento das posições anti-romanas nesses ambientes. Constituíram-se em mais um desafio à perseverança no pedregoso caminho da unidade cristã como um sinal a mais da ambigüidade que envolve as realizações humanas. Veni Creator Spiritus!

É isso aí!
 
Publicado em: 11/07/2007