Tempo e Presença Digital - Página Principal
 
“RACISMO AMBIENTAL E CRIMINALIDADE – DESAFIOS À DEMOCRACIA”
Ano 6 - Nº 24
Abril de 2011
Publicação Virtual de KOINONIA (ISSN 1981-1810)
_Editorial
 

Pedimos desculpas aos nossos leitores(as) pelo longo atraso desta primeira edição do ano de nossa revista. Acúmulo de atividades e outros problemas envolvendo nossa editoria foram a causa maior desta demora.

Os primeiros quatro meses deste ano de 2011 foram caracterizados pela ocorrência de terríveis desastres ambientais, desde o cataclismo na Região Serrana do Rio de Janeiro, passando por tornados, nevascas e inundações em outras partes do globo, até os terremotos e tsunamis no Japão - com um volumoso número de vítimas fatais e dezenas de milhares de pessoas desabrigadas e desamparadas – e convulsões/rebeliões sociais inesperadas, contínuas e insistentes, que estão desestabilizando governos autoritários/ditatoriais do norte da África ao Oriente Médio e criando  situações  de guerras civis de facto. Tais acontecimentos, ocorrendo em dimensões muito diferenciadas de nossa experiência humana parecem, à primeira vista, totalmente desvinculados uns dos outros: os primeiros sendo creditados à fatalidades da natureza e os demais atribuídos a baixos níveis de desenvolvimento civilizacional das respectivas regiões onde ocorrem. Por mais primário e ingênuo que possa parecer este tipo de avaliação, importa registrar que ela é muito mais freqüente e, diria até, predominante, no senso comum da maioria dos estratos de nossa sociedade ocidental do que poderíamos supor.

Na verdade, ambas dimensões destes trágicos cataclismos, naturais e sociais, estão profundamente interligados, pois respondem à maneira pela qual, nos últimos séculos, as relações entre os humanos entre si e com a natureza tem-se desenvolvido sob a égide de um sistema econômico e político que tem por motor a ganância egoística desenfreada, que depreda irresponsavelmente a natureza e funda as relações entre os humanos na discriminação, subordinação e marginalização. Como assinala o filósofo italiano Umberto Galimberti “a pobreza não é só falta de alimento, não é só um encontro diário com a doença e a morte, a extrema pobreza é a saída da condição humana e ao mesmo tempo o seu reaparecimento como acidente da história, que faz a sua apresentação televisiva quando os condutores da história passam por aqueles territórios desesperados que uma vez chamávamos de “terceiro mundo” e que agora, diante das condições de vida alcançadas pelo “primeiro mundo”, podemos chamar de “não mundo”, puro acidente antropológico, não diferente dos acidentes geológicos ou atmosféricos, que sob o nome de terremotos ou inundações, pedem socorro.”

Nesta edição, que tem por tema “Racismo Ambiental e Criminalidade – Desafios à Democracia”, nossos articulistas desvelam aspectos não mais percebidos por nossa já cauterizada sensibilidade comum graças aos artifícios da mídia e de certas propostas religiosas que tornam as populações vulnerabilizadas, como que invisíveis, distantes e além do limiar de nosso mundo de bem-nutridos. Mesmo com medo da violência que nos espreita em cada esquina e da poluição que lentamente nos envenena.

 
Publicado em: 02/05/2011