Tempo e Presença Digital - Página Principal
 
JOÃO CALVINO: 500 ANOS!
Ano 4 - Nº 17
Outubro de 2009
Publicação Virtual de KOINONIA (ISSN 1981-1810)
_Editorial
 

João Calvino: 500 anos!

Em primeiro lugar desejamos apresentar nossas desculpas aos leitores e leitoras de Tempo & Presença pelo atraso no aparecimento desta nova edição de nossa revista. Fatores externos, de variados tipos, impediram a realização do planejamento estabelecido e ocasionaram o retardamento de nossa publicação.

Esta edição está referida à comemorações dos 500 anos do nascimento de João Calvino, o Reformador de Genebra e grande artífice do Protestantismo que vai se espalhar por grande parte da Europa e, depois, no resto do mundo, como parte da expansão colonialista do velho continente. O Calvinismo, conjunto de formulações teológicas derivadas de suas proposições e de sua prática eclesial, vai assumir, a partir do final do século XVI, diferentes formas, impregnando as mais diferentes formas eclesiológicas que vão surgir na esteira das transformações sociais e políticas, especialmente no norte da Europa. De modo particular, as Igrejas de tradição presbiteriana ou reformada em todo o mundo, têm dedicado o ano em curso para rememorar e celebrar a vida e a obra daquele que foi um dos mais importantes visionários e que muito contribuiu para a gestação do mundo moderno. Como sinalizou R.H. Tawney: “Não é de tudo fantasioso dizer que, num cenário menor, mas com armas não menos formidáveis, Calvino fez pela burguesia do século XVI o que Marx fez pelo proletariado do século XIX...”.

Discípulo de Lutero, a quem reverenciava como seu mestre, Calvino vai se notabilizar por procurar reinterpretar o significado do evangelho e do papel da igreja na situação histórica específica que lhe tocava viver. Ou seja, no rastro do Reformador alemão e acolhendo as contribuições do reformador suíço Ulrico Zwinglio, o jovem francês que se estabelece em Genebra vai procurar desenhar, no contexto sociopolítico em que se encontra, uma outra eclesiologia capaz de responder às demandas de sentido e plausibilidade que emergiam das profundas transformações socioculturais e econômicas que agitavam a Europa naquele momento.
Os tempos eram muito difíceis. Por causa dos conflitos político-religiosos havia perseguições por todos os lados. Tolerância para com o diferente era um conceito inexistente. Roma era, todavia, bastante forte e dispunha ainda de muito poder. Genebra se transformou, rapidamente, em uma cidade-refúgio para protestantes de todos os matizes, humanistas e descontentes com as políticas dos governos regionais e centrais aliadas da igreja romana. Calvino mesmo era um refugiado. Foi, pois, em meio a essa situação de inquietude, de incerteza, de ausência de paz e tranqüilidade, ou seja, numa situação-limite, onde tudo estava por ser feito, que Calvino empregou seu gênio organizativo e normativo, revelando-se um grande condutor do povo. Organizou e dirigiu a comunidade reformada de Genebra durante 23 anos, até sua morte precoce, e somente pôde gozar de certa paz e tranqüilidade nos últimos 10 anos de sua vida. Ao ler seus textos e tomar conhecimento de suas, muitas vezes, discutíveis decisões, temos de levar em alta conta o contexto no qual ele tinha que se mover. Com isso não queremos desculpá-lo por seus exageros e equívocos, mas chamar a atenção para o fato de que estamos diante de homem em luta permanente, cercado de inimigos, em plena batalha...

Os articulistas desta edição (dois brasileiros e dois mexicanos), ligados à tradição eclesiológica reformada, procuram realçar os aspectos mais significativos da obra calvineana com o objetivo de mostrar a atualidade de muitas de suas proposições e, por outro lado, assinalar as tergiversações de seu pensamento perpetradas ao longo da história por leitura insuficientes e/equivocadas de sua herança teológica.
Uma nota ecumênica fecha esta edição. Trata-se de uma resenha, escrita pelo Prof. Faustino Teixeira, do último livro do Cardeal Walter Kasper, atual Presidente do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, publicado em alemão em 2008 e recém traduzido para o italiano, no qual o autor surpreende com uma compreensão do movimento ecumênico que não se reflete para nada nas posturas vaticanas dos últimos anos.

É isso aí.

 
Publicado em: 30/10/2009