Tempo e Presença Digital - Página Principal
 
CONTEXTO QUILOMBOLA
Ano 3 - Nº 11
Julho de 2008
Publicação Virtual de KOINONIA (ISSN 1981-1810)
_Editorial
 
“Pois é isso! É dura a vida de um cidadão afro-brasileiro. Principalmente, quando ele, recusando o lugar subalterno que a sociedade abrangente lhe reservou, fala, canta e escreve, denunciando o racismo deste país tão simpático quanto hipócrita e mentiroso. Aí, o coitado do negro, mesmo não tendo a pele tão escura a ponto de ser, irremediavelmente, marcado como NEGRO, e não podendo ser calado nem imobilizado porque tem a força de seus Ancestrais e Orixás africanos, acaba sendo acusado de segregacionista, desagregador, racista; um mau elemento, desestabilizador da harmonia reinante entre as raças neste país abençoado.” (Nei Lopes, escritor, filólogo e compositor, Le Monde Diplomatique Brasil, v.1, n.10, maio, 2008).

Esta edição da revista Tempo & Presença reúne um conjunto de artigos referentes à situação que as comunidades de descendentes de Quilombolas, espalhadas por todo o País, passaram a enfrentar na medida em que procuraram exercitar seu direito a existirem como tais, conforme estabelece o preceito constitucional, regulamentado pelo Decreto nº 4887, de 2003 da Presidência da República. Suas legítimas reivindicações, tanto da perspectiva legal quanto social e cultural, passaram a ser contestadas por indivíduos, grupos e instituições, tanto privadas quanto públicas, inconformados com a possibilidade de virem a perder o uso-fruto de privilégios de há muito estabelecidos no rastro do descaso e da discriminação dos brasileiros afro-descendentes. Tais ações, que procuram ou descaracterizar as comunidades ou, simplesmente, contestar sua existência histórica, por meio dos mais diferentes subterfúgios e, ainda, colocar sob suspeita as medidas postas em vigor pelas autoridades públicas, revelam a continuidade, no contexto da sociedade brasileira, das práticas discriminatórias de sujeição e negação de direitos contra os afro-descendentes que, lamentavelmente, marcam a história da construção desta sociedade.

A partir de diferentes perspectivas, os articulistas desta edição procuram mapear os inúmeros processos que envolvem as situações experimentadas pelas diferentes comunidades Quilombolas em seus esforços para terem seus direitos reconhecidos concretamente, no chão da história, já que estão garantidos na letra da Lei magna. Trata-se de mais um grupo minoritário em busca da afirmação de seus direitos no contexto de uma sociedade que se auto-proclama como democrática e que almeja o fim de todo o tipo de exclusão. Só que, como expressou com propriedade o músico e ex-Ministro de Estado da Cultura, Gilberto Gil: “Não podemos tratar a inclusão social e cultural como um processo de cooptação ou de incorporação de grupos e indivíduos a uma dimensão hegemônica que o processo histórico tenha consagrado como sendo “a” cidadania. Quando falo em inclusão, falo em cada um segundo a sua própria história, seus valores, suas expressões, para a construção de uma igualdade na diversidade, através de um diálogo efetivamente democrático de identidades que não precisam se anular. Ao mesmo tempo, é preciso recuperar a enorme dívida do Estado com os afro-descendentes. ”.

É isso aí!
 
Publicado em: 13/08/2008