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INCLUSÃO DIGITAL
Ano 3 - Nº 10
Junho de 2008
Publicação Virtual de KOINONIA (ISSN 1981-1810)
_Editorial
 
A presente edição de Tempo & Presença está voltada para a temática da Inclusão Digital ou, dito de outra maneira, para os esforços de disseminação das novas tecnologias de informação/comunicação que, numa perspectiva democrática, deveriam ser acessíveis a todas as pessoas. Tais esforços, que combinam iniciativas de diferentes órgãos governamentais e de significativos segmentos da sociedade civil organizada, fazem parte da luta pela superação da desigualdade social, econômica e política que caracteriza a maior parte da população mundial e, de modo específico, a nossa sociedade. Isto porque, de forma definitiva, nos encontramos em plena era da sociedade do conhecimento, o qual, à diferença de tempos pretéritos, desempenha papel decisivo nas atuais relações de produção e na determinação das diferentes formas de poder que gerem nossas sociedades.

Como assinalou com propriedade o prof. Carlos Seabra “os impactos sociais da informática, conquista da ciência e da tecnologia, são capazes de levar a uma transformação maior que a da máquina a vapor. Uma sociedade baseada cada vez mais na troca de valores simbólicos, do dinheiro à informação, vai mudar o eixo da economia, acabar com o conceito atual de trabalho, valorizar mais que tudo o conhecimento e a aprendizagem. Neste cenário os excluídos serão cada vez mais excluídos – com o poder se concentrando nas esferas virtuais (com profundo controle nas esferas reais) – a não ser que se implementem eficazes e massivas ações para promover sua ‘inclusão digital’.”.

Os artigos aqui reunidos oferecem um conjunto de informações que nos permitem perceber a magnitude do desafio a ser enfrentado, ao mesmo tempo em que assinalam a complexidade das respostas num contexto de profunda exclusão social. Menos de 15%, dos cerca de 190 milhões de brasileiros, têm acesso ao mundo da informática. Por outro lado, cerca de 50% desta população ganha, mensalmente, até 2 salários-mínimos. É possível facilitar o acesso de todos ao direito à informação/comunicação, garantido pela Constituição-cidadã de 1988, sem, ao mesmo tempo, criar condições objetivas de real inclusão sócio-econômica?

As seguintes afirmações do sociólogo Manuel Castells expressam com objetividade as reais dimensões do desafio que representa a democratização da informática: “Todo mundo deveria ter direito a utilizar a Internet e ninguém deveria ser penalizado por questões de geografia ou de dinheiro. Além disso, há outros elementos que fazem com que a divisão digital subsista. Um deles é a velocidade na Internet e outro é a forma como aqueles que estão no ciberespaço dão forma à Web segundo a sua própria imagem. Quanto mais a democratização da Internet demorar, mais a Web se desenvolverá em torno de valores que não são aqueles do conjunto da sociedade. A difusão da Internet sobre o conjunto do planeta exigirá forte ação dos Estados, com ações públicas nacionais e internacionais. As diferenças culturais, financeiras e de infra-estrutura são hoje tais que podemos ter um terço do planeta estruturado ao redor da Internet e dois terços excluídos, com tudo o que isso significa em termos de acesso à informação ou aos recursos empresariais. O desenvolvimento da Web, que era exponencial, encontra nessa realidade seu limite.”.

É isso aí.
 
Publicado em: 03/07/2008