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INCLUSÃO DIGITAL
Ano 3 - Nº 10
Junho de 2008
Publicação Virtual de KOINONIA (ISSN 1981-1810)
_Artigo
 
O oásis desértico da tecnologia digital
Por: Gilberto Barbosa Salgado e Sara Rodrigues de Moraes

O tema da exclusão digital é, hoje, um tanto espinhoso. Denomine-se internet, rede, ou, mais sofisticadamente, tecnologias de informação e comunicação, o fato é que, ainda que persistam excluídos da rede, por assim dizer, um problema maior se avizinha nesse suposto oásis da tecnologia digital, que pode mesmo se transformar em um oásis desértico, onde faltem idéias e infirmem-se os fechamentos do universo locucional: trata-se da semi-inclusão, ou proto-inclusão, que confere a ilusão ao jovem de periferia e membros das classes desfavorecidas economicamente (subalternas, diriam os gramscianos) que basta aprender a operar nesse meio digital e a “mágica” se realiza. Esse artigo fará uma exposição problematizadora, no sentido que Bourdieu emprega às operações sociológicas, do tema (seções 1 e 2), para, nas suas considerações finais realizar as proposições de três itens básicos, para reflexão: a) a tecnologia digital na disjuntiva natureza versus cultura; b) as operações essenciais e inevitáveis, qual sejam, agência, imersão e transformação; e, c) sugestões de seleção e discriminação de informações dentro dos agenciamentos de memória, atenção e disrupção nos processos microcognitivos.

Uma série de mudanças foi aberta tanto pela arquitetura de interface quanto pela sociedade em rede. No campo micro-cognitivo, o modo como se lê e escreve deixou a linearidade e passou à cibertextualidade; na atenção, um elemento isoladamente catalogado deu lugar a percepções múltiplas da realidade que ignoram a idéia de espaço e tempo; a linguagem assume contornos narrativos que prezam mais a arquitetura que a substância. Exemplos de como aspectos como estes permeiam novas estruturações macro-cognitivas seriam a reestruturação de serviços e comunicação dos governos, por meio do governo eletrônico; e o alargamento das fronteiras culturais e comerciais, pelos programas de mensagens, comunidades virtuais e e-commerce, pela socialização da informação, uma vez que os olhos se multiplicaram além das agências de notícia, sendo possível ter acesso a vários pontos de vista de um fato a menos de cinco minutos do acontecimento. 

Uma das questões que se apresentam neste novo século é se essas mudanças seriam para todos. A sociedade estaria às portas de mudanças estruturais promotoras de libertação das amarras da comunicação de massa ou de um novo modelo de exclusão? Neste artigo serão analisadas algumas perspectivas da exclusão digital e questionadas algumas de suas bases e direções.

Na primeira parte, serão estudados os modelos de comunicação propostos por Thompson em “A Mídia e a Modernidade”, os modelos panópticos de Foucault em “Vigiar e Punir” e as explanações de Castells sobre a rede e o ser em “A Sociedade em Rede” para dimensionar os reais caminhos da exclusão digital. A segunda parte tem por objetivo traçar algumas perspectivas da exclusão expostos por Sorj e Eisemberg, contrapostas à história dos meios de comunicação traçada por Defleur e Ball-Rokeach. Por fim, serão tecidas algumas considerações finais.

Gilberto Barbosa Salgado, professor e pesquisador dos mestrados em Ciências Sociais e em Psicologia da UFJF; coordenador do Núcleo de Estudos Estratégicos/UFJF/www.nee.ufjf.br, editor da revista Teoria e Cultura/UFJF; gbsalgado@terra.com.br).

Sara Rodrigues de Moraes, mestre em Ciências Sociais pela UFJF e bacharel em Comunicação Social pela mesma instituição. sarademoraes@yahoo.com.br).



Anexo:
gilbertojul2008.pdf