A situação da violência no campo continua a ser uma das dívidas sociais que acompanham a nossa história nacional. O atual Caderno de Conflitos no Campo, da CPT confirma que os conflitos fundiários e os assassinatos de camponesas e camponeses permanecem a acompanhar a rota do agronegócio no Brasil. Assim, os principais conflitos deslocaram-se para o Centro Oeste e para o Norte. O processo de criminalização dos movimentos sociais do campo, em especial do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), prossegue. Trata-se de um conjunto de fatos que mostram como a questão fundiária e agrícola no País exige uma profunda e vigorosa Reforma Agrária, que permita aos camponeses e camponesas, organizados em unidades familiares de produção, já responsáveis pelo abastecimento de grãos e hortifruti do mercado nacional, o desfrute de vida digna e de qualidade.
É nesse contexto agrário do País que deve ser entendida a difusão da agricultura da maconha. Seria um equívoco interpretar essa agricultura exclusivamente a partir de uma lógica penal, do Estado Penal. Trata-se de uma alternativa econômica que tem atraído milhares de brasileiras e brasileiros de Norte a Sul, em parte, também, pela ausência de uma séria Reforma Agrária. Imagino que tratar assim o assunto seja temível tanto para os militantes da criminalização das drogas, quanto para os movimentos sociais do campo que já vivem sob o jugo dos preconceitos sociais e dos terrores do Capital. No entanto, é necessário que se faça um debate nacional sobre esse fato socioeconômico.
O atual número do Boletim Drogas e Violência no Campo segue com contribuições nessa direção. Traz um manifesto para um encontro em Valencia, 2008, na Espanha, no qual se discutirá como a política de drogas, em âmbito internacional, deve respeitar os direitos das camponesas e camponeses.
Oferece também o artigo de Joep Oomen, do ENCOD (European Coalition for just and effective drug policies), sobre as campanhas, na Europa, para uma política de drogas humanitária e justa. Parece-nos importante mostrar que a questão dos efeitos nocivos e letais da atual política de drogas é um problema internacional, não apenas brasileiro. Por isso, a alternativa aos fenômenos da violência letal e da lógica repressiva da política de drogas proibicionista deve ser buscada tanto em nível nacional, quanto internacional.
É isso aí,
Boa Leitura!
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