Este boletim é o primeiro de 2007. Temos um boletim curto. Nele estão uma resenha de um livro sobre a ayhuasca e um pequeno artigo sobre as diablas da coca, no Peru. Também circulamos um conjunto de notícias sobre drogas e campo no Brasil, além de algumas indicações de eventos. Temos muito que refletir sobre a política de drogas neste ano. Afinal, em 2008, em Genebra, haverá a revisão da década para a erradicação da maconha, da coca e do ópio pela ONU. Muita coisa precisa ser pensada em favor de uma política de drogas mais democrática, humana e justa. A necessidade do abandono da doutrina da guerra às drogas parece cada dia mais evidente.
É por isso que precisamos destacar o pronunciamento do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, em favor de uma política de descriminalização das drogas. Como notou o deputado Gabeira, é evidente que uma política de descriminalização, desconectada de um outro conjunto de políticas públicas, será bastante ineficaz para a superação da violência. Porém, é um passo importante para que ela possa sofrer tremenda diminuição. A questão sobre o controle social das drogas é cada vez mais importante para definir políticas de segurança e de saúde pública nesse campo. Será cada vez mais necessário que aprofundemos esse debate. Assim como, é necessário observar-se o conjunto da cadeia produtiva das drogas para isso.
É insuficiente a manutenção da atual política de drogas. O resultado dela se nota há muito tempo: aumento da incidência de violência letal contra jovens nas áreas urbanas e rurais; ampliação dos circuitos de distribuição de drogas; ampliação geográfica das áreas de cultivo de maconha (no Brasil); novas formas de inserção de mão‑de‑obra, na cidade e no campo, para a economia das drogas. Além do ingresso brutal de drogas sintéticas, ilícitas, para o consumo urbano. Ao que parece mais repressão não implica em diminuição dessas mazelas. Precisamos da abertura a debates qualificados sobre o tema e de uma profunda revisão no espírito da legislação de drogas no Brasil, que está totalmente aliada à da guerra às drogas estado-unidense.
É necessário que identifiquemos as questões latino-americanas envolvidas nessa discussão: respeito aos direitos indígenas, cuidados com o meio ambiente, valorização da vida das populações empobrecidas das periferias urbanas e rurais. O viés da violência letal é importante para as interpretações dos efeitos da economia das drogas, porém é insuficiente. Ele conduz a criminalização de territórios e grupos sociais. Conduz a penalização dos comportamentos e a reificação do Estado Penal. Por isso, este ano, o Boletim Drogas e Violência no Campo se destinará a traduzir essas questões e oferecer reflexões que permitam o aprofundamento desse debate na sociedade brasileira e latino‑americana, em favor de uma política de drogas que valorize a vida de todas e todos.
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