“...o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades: tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas e todas as coisas subsistem por ele.” (Col 1, 15-17).
A luz é a imagem radiante da bondade de Deus na criação e no Natal. O Criador ordena, “haja luz” (Gen.1, 3) e o universo ganha forma. Na natividade de Cristo a luz resplandece nas trevas e as trevas não podem, nunca, dominar este testemunho resplandecente do Deus vivo. (Jo 1, 4-5).
Natal é um tempo para se cantar louvores. (Lc 2,14) Entretanto, em nossa época, a realidade da destruição do meio-ambiente solapa a doxologia da criação. A música das esferas é distorcida pela poluição e pelos sons artificiais; os ritmos do mar alterados pelas mudanças climáticas; a beleza das muitas e diversificadas manifestações da vida, desfigurada pelas práticas abusivas motivadas pela avareza. E, como a terra sofre, seus habitantes também sofrem. Para os pobres, e para as demais pessoas socialmente marginalizadas, torna-se cada vez mais difícil elevar suas vozes em cânticos.
Nos tempos de Maria e José, o imperador Augusto pensava ter todo o poder em suas mãos. Decretou que “todo mundo” (a palavra bíblica é oikoumene ) (Lc 2, 1) deveria pagar impostos, e um casal desconhecido se pôs a caminho de Belém. Mas Deus tinha outros planos para a história e, agora, nos damos conta de que os tronos, domínios, principados e potestades, inconscientemente, estavam agindo para cumprir os imperativos proféticos. É Cristo e não o imperador, quem verdadeiramente é “antes de todas as coisas, e todas as coisas nele subsistem.” (Col 1, 17; Sal 2, 7-10 )
A teóloga Bárbara Rossing, erudita da Bíblia, sugere que a antiga oikoumene imperial de César – junto com os impérios políticos, militares e econômicos modernos – estão se desmoronando. No entanto, os profetas e os apóstolos nos asseguram que a criação de Deus – uma verdadeira oikoumene que inclui a casa de Deus – será transformada. (Is 65, 17; Apocalipse 21-22).
Por isso, oramos pelas mudanças e nos oferecemos a nós mesmos como instrumentos de transformação (II Cor 4, 16 ). Vivemos convencidos de que uma nova criação tem lugar na vinda de Jesus Cristo, e de que, nela, a esperança do cântico dos anjos se cumpre: Deus, a humanidade e toda a vida se reconciliarão ( II Cor 5, 17-20 ).
Dr. Samuel Kobia, Secretário-Geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI)
(Trad. De Z. Dias)