Textos que marcaram toda a existência do Tempo e Presença
A missa dos quilombos chegou tarde demais?
Por: HOORNAERT, Eduardo. A missa dos quilombos chegou tarde demais?. Tempo e Presença, n. 173, jan./fev.1982.
Em 1980, dois anos depois da fundação do Movimento Negro Unificado, Abdias do Nascimento propunha que o “quilombismo” fosse adotado como um projeto de “revolução não violenta” dos negros brasileiros, tendo por objetivo a criação de uma sociedade marcada pela recuperação do “comunitarismo da tradição africana”. Esse era, segundo o eminente teórico e militante negro, o conteúdo simbólico que se deveria atribuir aos quilombos enquanto palavra de ordem do “verdadeiro movimento revolucionário negro”. Com isso ganhava consistência cada vez maior a adoção do Quilombo como metáfora histórica e política fundada em uma experiência nacional, que vinha sendo gestada desde o início da década de 1970.
No bojo desse adensamento de significados atribuídos ao Quilombo, no ano seguinte, no 20 de novembro de 1981, celebrou-se no Recife a primeira missa no Brasil, e possivelmente em todo o mundo católico, em que altos representantes da Igreja, diante de uma multidão de cerca de oito mil pessoas, se penitenciaram e pediram perdão pelo posicionamento histórico da Igreja diante dos negros, da África e, em especial, dos negros aquilombados, reconhecidos como os maiores inimigos da empresa cristã durante séculos. Foi a Missa dos Quilombos, que antecipou um movimento de revisionismo que o Vaticano só adotaria décadas depois.
É sobre esse evento que o primeiro texto que selecionamos para a coluna Memória, de 1982, diz respeito. Nele o historiador católico Eduardo Hoornaert descreve a Missa dos Quilombos e recupera seu significado político e simbólico, colocando-se questões importantes sobre a pertinência histórica do gesto. O que ele não podia antecipar, porém, era o desdobramento e o crescimento da metáfora, assim como a forma pela qual ela ganharia corpo na Constituição Cidadã, promulgada seis anos depois, dando abertura para o surgimento de um vigoroso movimento quilombola.
José Mauricio Arruti, antropólogo, coordenador do programa Egbé Territórios Negros
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