Depois de um longo hiato eis que voltamos a organizar mais uma edição da Tempo & Presença Digital. Pedimos desculpas aos nossos leitores e leitoras por não termos podido manter a regularidade de, pelo menos, quatro edições anuais. Desta feita procuramos oferecer algumas reflexões que nos ajudem a pensar acerca dos principais elementos que dão forma e conteúdo ao contexto histórico que atravessamos. As palavras que compõem nosso tema combinam-se de diferentes maneiras atravessando e manchando nossas sociedades comas marcas do ódio, do conflito, dos preconceitos e do sangue.
Vivemos um momento especial no atual sistema-mundo, tanto no que se refere à situação internacional com a intrincada e, aparentemente, insolúvel guerra na Síria, passando pelos conflitos permanentes no Oriente Médio e em diferentes regiões da África, como também nas transformações abruptas provocadas por manipulações políticas as mais diferenciadas em diversos países da América Latina e do Caribe.
Dentre estas se destaca, por sua importância e significação, a crise política vivida pelo nosso país. A não aceitação, por parte dos derrotados, dos resultados da eleição presidencial de 2014, como expressão de sua oposição à continuidade do modelo político-econômico vigente desde 2002, os levou a articulação de um processo parlamentar-jurídico-midiático que culminou no impeachment da presidenta eleita por meio de um golpe disfarçado de legalidade que os colocou no poder à revelia do voto popular. Neste processo ficaram evidentes: a) o realinhamento do país aos interesses geopolíticos e econômicos das potencias ocidentais com o consequente abandono da perspectiva independentista dos governos anteriores do Presidente Lula e da Presidenta Dilma Rousseff; b) o abandono das políticas públicas voltadas para a inclusão dos setores majoritários da população, secularmente marginalizados na política nacional e que receberam especial cuidado dos governos anteriores; a adoção de uma perspectiva econômico-política neoliberal, voltada para a redução do tamanho e do âmbito de atuação do Estado com as consequentes propostas de privatizações, diminuição radical dos gastos públicos com políticas restritivas para os dispêndios com saúde, educação, ação social, promoção de direitos das minorias etc. Com os decantados ajustes fiscais impôs-se o predomínio do capital financeiro.
Nesse processo setores eclesiásticos importantes, particularmente do universo (neo)pentecostal/carismático aliaram-se aos grupos mais conservadores imprimindo uma espécie de sanção religiosa não-oficial à retomada neoliberal do poder por parte das tradicionais elites brasileiras.
Os textos que apresentamos nesta edição procuram deslindar os diferentes aspectos que conformam a presente conjuntura, tanto internacional quando nacional, oferecendo também uma leitura outra da tradição bíblica no que se refere à legitimação religiosa da violência nos embates políticos.
Desejamos uma boa leitura a todos e todas.
Zwinglio M. Dias - Editor