Iniciamos 2010 em meio a um torvelinho de acontecimentos. Alguns prenhes de esperança de um tempo novo; outros, com a marca da tragédia e do sofrimento. Nesta edição inicial do ano nos propusemos reunir algumas reflexões que procuram dar conta dos contextos, das projeções e do significado de cada um deles para as diferentes conjunturas que configuram a situação atual, tanto em termos globais como regionais.
A realização da Campanha da Fraternidade Ecumênica, a celebração do Centenário da Conferência Missionária de Edimburgo, a realização do Fórum Social Mundial - de novo no Brasil -, o centenário do Dia Internacional da Mulher, o encontro da Rede Ecumênica de Juventude e a tragédia inominável do terremoto no Haiti, são os temas abordados nesta edição que enfeixamos sob o mote único de “Tragédia, Memória e Esperança solidária”.
Cresce a cada dia a consciência de que a solução dos gravíssimos problemas ambientais que pesam sobre o futuro da humanidade, está intimamente relacionada com as questões relativas à falta de justiça e equidade que marcam as relações entre os humanos. Assim, justiça socioeconômica e preservação ambiental são questões interdependentes, sendo que o encaminhamento de soluções para a preservação e sustentação do meio ambiente, necessariamente, passa pelo re-ordenamento das relações socioeconômicas e políticas vigentes no mundo hoje. Infelizmente, esta verdade, por mais óbvia que pareça aos olhos da opinião pública mundial, ainda está muito distante de ser assumida por parte daqueles que são os principais responsáveis pelo controle e operacionalização da economia mundial. O fracasso da Conferência sobre o Clima em Copenhagen, no ano recém findo, foi um exemplo gritante disso. Por outro lado, os desastres ecológicos e as transformações climáticas que se vão sucedendo numa escala cada vez maior, em função da depredação ambiental irresponsável, vão afetando, em proporções catastróficas, as populações mais vulnerabilizadas pela ausência de infra-estruturas mínimas capazes de lhes garantir, ainda que minimamente, suas possibilidades de sobrevivência. A catástrofe resultante do terremoto que se abateu sobre o Haiti, com centenas de milhares de vítimas, é outra evidência gritante de que onde falta um mínimo de equilíbrio socioeconômico, a devastação socioambiental tem consequências dramáticas inauditas para o conjunto das populações empobrecidas pelo irracionalismo da injustiça socioeconômica.
A Campanha da Fraternidade Ecumênica e o Fórum Social Mundial ao denunciarem, no final da primeira década do novo século, esta correlação entre devastação ambiental e depredação socioeconômica do capital humano de nosso planeta, se constituem num alerta de undécima hora para a, ainda possível, salvação do planeta.
As celebrações do centenário da Conferência Missionária de Edimburgo, berço do Movimento Ecumênico, e os esforços de consolidação da Rede Ecumênica de Juventude e a celebração do Dia Internacional da Mulher são sinalizações significativas de que a luta pela transformação do mundo e salvação da humanidade continua, em que pesem todos os reveses experimentados até agora. A saúde (salvação) de Gaia depende da salvação (saúde) espiritual/material dos humanos, e isto implica numa escolha acertada do determinante fundamental da existência humana. Enquanto persistirem todas as formas de dominação ególatra do ser humano sobre a natureza e sobre seus semelhantes, particularmente a irracional sujeição da mulher ao poder masculino, a justiça e a igualdade nunca se realizarão e a beleza da vida, esse dom maravilhoso que nos intriga e enternece, jamais será experimentado em toda a sua plenitude. Como reza o lema da Campanha da Fraternidade Ecumênica, recordando as palavras de Jesus de Nazaré (Mt 6, 24c): “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro!”
É isso aí!