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HERESIAS DA PRESENTE CONJUNTURA SOCIOPOLÍTICA E CULTURAL
Ano 2019 - Nº 32
Junho de 2019
Publicação Virtual de KOINONIA (ISSN 1981-1810)
_Artigo
 
Qual a importância da laicidade na sociedade atual?
Por: Lídia Maria de Lima

Quero começar fazendo uma indicação de leitura, o texto: “Minhas Contas” (ANTONIO, Luiz 2008). A publicação infantil, retrata a história de Pedro e Nei, dois meninos muito amigos. Mas, quando a mãe de Pedro descobre que Nei usa fios de conta, por causa da religião, a amizade dos dois passa a ser proibida. E é na necessidade, na solidariedade e no respeito, pelas vidas, pela história e pelas escolhas, que as famílias redescobrem o caminho para o bem viver. Partilho esta história porque ela me faz pensar na minha história, como protestante, que pela ignorância, não pude, durante toda a minha infância, conviver com pessoas de outras religiões. E bem sei, que a educação e a partilha, desde a infãncia, são fundamentais para que a gente valorize a diversidade e a laicidade. 

Sempre fui protestante. Nasci em uma casa que valoriza a religião, porque entende que ela alimenta a alma. Acalenta a vida e mantém acessa a chama da esperança. É uma ecolha. Para alguns uma necessidade, para outros mera formalidade, algo dispensável, mas ela está aí. Mantém-se viva. Agrega.

Segundo Peter Berger – Em O Dossel Sagrada – a religião está aí para colocar ordem no caos, seja ele de ordem pessoal ou coletiva. Ela é parte da nossa identidade. Reflete a nossa escolha e as nossas conquistas. Mas, também sabemos o quanto foi, historicamente, desastroso colocar os valores religiosos como imposição num contexto social tão amplo e plural como a nossa sociedade. Quantas vidas foram dizimadas? Quantas pessoas foram escravizadas, exploradas, comdenadas, em nome da fé?

 E diante deste fato torna-se importante que a gente compreenda que a liberdade de culto e a laicidade são fundamentais para a vivência democrática.  E quando defendemos um Estado Laico, não estamos negando a importância dos grupos religiosos. Estamos apenas reforçando algo que é constitucional e humanitário: nossa liberdade de escolha, de ritos, de crenças e de experiência.  E estamos reforçando a nossa oposição às barbaries que são feitas “em nome de deus”, mas que em nada refletem os valores sagrados. São apenas instrumentos de manipulação e manutenção de poder / privilégio de um grupo que, em geral,  tem seus valores pautados em uma história racista, misógena e homofóbica.

Sim, como já disse, sempre fui cristã protestante, mas isso não me impede de tecer críticas ao cristianismo e isso também não me impede de dialogar com outros grupos e conviver com pessoas que não propagam a mesma fé que a minha. Por isso a escolha do livro Minhas contas, no início deste texto.

Se há disposição para o diálogo, para a ajuda mútua, para a construção da paz e para a organização social, ainda que seja em pequenos focos e em pequenas ações, é importante que estejamos unidos/a e que lutemos para preservar nossas ações e a laicidade do Estado.

A vida não pode ser feita por imposições. Somos muitos, é preciso que sejamos mútuos em abraços e braços, numa tentativa de organizar e/ou sobreviver a esse grande caos social em que estamos inseridos e que prega, constantemente, o fim da laicidade.

E de tudo que aqui lhes disse, penso que: o diálogo, a dignidade e o respeito devem ser os pilares para a preservação do Estado Laico. E se conservarmos esta triáde, certamente teremos a propagação da vida e a preservação da paz.

Que o sagrado, nas suas mais diversas formas de manifestação, nos inspire nesta caminhada.