América Latina e Diálogo inter-religioso: declarações Assembléia do CMI
Crédito © Paulino Menezes/WCC Participantes reunidos na celebração de abertura da 9ª Assembléia do CMI
Data: 21/12/2006
O Conselho Mundial de Igrejas (CMI) realizou sua IX Assembléia Geral
pela primeira vez na América Latina reunindo-se em Porto Alegre, Brasil,
entre os dias 14 e 23 de fevereiro do corrente ano. Dentre as muitas atividades
e declarações emitidas por esta sua máxima instância
deliberativa destacamos duas resoluções que expressam a opinião
do CMI acerca da importância do diálogo inter-cultural/religioso
e sobre a presente situação vivenciada pelo continente latino-americano.
I - Nota sobre o Respeito Mútuo, a Responsabilidade e o Diálogo
com Povos de outras Religiões
1. A comunidade internacional deve trabalhar unida para fomentar o respeito
do mundo inteiro pela diversidade, a cultura e a religião. As comunidades
e os líderes religiosos têm a responsabilidade especial de promover
a tolerância e de tratar de minorar o desconhecimento acerca das outras
religiões. Os representantes das 348 Igrejas de 120 países,
reunidos em Porto Alegre, Brasil, na 9ª Assembléia do CMI, reafirmam
seu compromisso de respeitar o diálogo e a cooperação
entre os crentes das diferentes religiões e convicções
religiosas. Por meio do diálogo aprendemos da fé dos demais
e compreendemos melhor sua dor e sua frustração. Vemo-nos a
nós mesmos por meio dos olhos dos demais. Além disso, percebemos
melhor o papel que a religião desempenha na política nacional
e internacional.
2. Num mundo onde observamos que a religião e a política estão
cada vez mais relacionadas, há muitos conflitos e tensões que
levam a marca da religião. O CMI procurou sempre promover o diálogo
inter-religioso tano no nível internacional como no nível local.
Instamos às igrejas-membro e aos conselhos nacionais de igrejas a criarem
plataformas para facilitar esse diálogo. Este deve vir sempre acompanhado
por formas de cooperação para que as comunidades de fé
interpelem o restante da comunidade civil e os governos com respeito às
questões de interesse comum, especialmente, quando a religião,
os lugares sagrados, os direitos das minorias e os direitos humanos se encontram
ameaçados.
3. Com respeito à publicação dos desenhos do Profeta
Mohamed, do Islam, que começou na Dinamarca em setembro do ano passado,
reconhecemos que é essencial fortalecer o diálogo e a cooperação
entre os cristãos e os muçulmanos. As publicações
foram motivo de controvérsia em todo o mundo. A reprodução
das mesmas deu lugar a reações violentas que aumentaram as tensões.
Como crentes, compreendemos a dor causada por esse menosprezo de algo que
se considera valioso para a fé. Deploramos a publicação
desses desenhos. Também nos juntamos às vozes de muitos líderes
muçulmanos que lamentaram as violentas reações provocadas
por tal publicação.
4. A liberdade de expressão é, evidentemente, um direito humano
fundamental que necessita de garantias e amparo. Trata-se tanto de um direito
como de uma responsabilidade. Por meio do exercício deste direito se
obriga às estruturas de poder a prestar contas e se enfrentam os abusos
de poder. Com a publicação dos desenhos, a liberdade de expressão
foi utilizada para provocar dor ridicularizando as religiões, os valores
e a dignidade dos povos. Utilizada desta forma se desvaloriza o fundamento
deste direito. Temos presente o que escreveu S. Pedro: “ (Procedei)
como livres, e não tendo a liberdade por cobertura da malícia,
mas como servos de Deus. Honrai a todos. ( (I Pe 2, 16-17). O uso incorreto
da liberdade de expressão deveria ser tratado como meios não-violentos
como a crítica e as expressões de veemente discordância.
5. Reconhecemos que na atual situação de tensão incidem
outros aspectos, além dos religiosos. O fracasso na busca de uma solução
justa e pacífica para o conflito árabe-israelense, a reticência
para se aceitar os resultados de eleições livres junto com a
guerra no Iraque e no Afeganistão incrementam a frustração
num contexto histórico marcado pelas cruzadas e pelo colonialismo.
Em numerosas regiões no mundo há pessoas que se reconhecem excluídas
política e economicamente e que, quase sempre, vivem a experiência
de ver como os poderes e as culturas dominantes aplicam uma dupla medida quando
se trata de questões que lhes são importantes. Nas regiões
ricas e influentes do mundo há muitos países cujas políticas
de integração não conseguiram fazer com as minorias se
sintam acolhidas. Ao contrário, estas devem enfrentar o racismo, os
estereótipos, a xenofobia e a falta de respeito por sua religião.
6. em nosso mundo a verdadeira tensão não é a que se
dá entre religiões e crenças, mas entre ideologias seculares
e religiões agressivas, intolerantes e manipuladoras. Estas ideologias
são utilizadas para legitimar o uso da violência, a exclusão
de minorias e a dominação política. As principais vítimas
dessa classe de conflitos são as minorias religiosas que vivem em contextos
de diferença com a maioria cultural. Reconhecemos, entretanto, que
prevalece cada vez mais o respeito e a tolerância em todas as culturas.
Muitos estão aprendendo que é possível ser diferentes,
inclusive permanecer em discordância e, ao mesmo tempo, continuar dialogando
com serenidade e colaborando para o bem comum.
7. A recente crise indica necessidade de todos os Estados e sociedades seculares
entenderem melhor e respeitarem mais o papel e o significado da religião
num mundo multicultural e globalizado e, especialmente, como uma dimensão
da identidade humana. Esta atitude contribuirá para que a religião
e os povos de fé se tornem instrumentos para a criação
de pontes entre as culturas e as nações e contribuam para a
solução dos problemas subjacentes.
Decisões:
A Nona Assembléia, reunida em Porto Alegre, Brasil, de 14 a 234
de fevereiro de 2006:
a) Aprova a Nota sobre o “respeito mútuo, a responsabilidade
e o diálogo com os povos de outras religiões”.
b) Pede às Igrejas-membros e aos associados ecumênicos de todo
o mundo que expressem e manifestem sua solidariedade com aqueles que sofrem
ataques a sua religião, e que se unam para defender a integridade de
sua religião mediante meios não-violentos.
c) Recomenda a todas a igrejas-membros e aos conselhos nacionais e regionais
de igrejas que contribuam para a criação de plataformas de diálogo
com os crentes de outras religiões ou não-crentes, e que considerem
as razões sociais, econômicas e políticas das divisões,
tanto imediatas como subjacentes, procurando a interação com os
governos e as autoridades seculares.
d) Insta às igrejas-membros e aos associados ecumênicos que, em
contextos onde a religião interage com a política causando divisões,
aprofundem o diálogo com os dirigentes de outras religiões procurando
soluções em comum e formulando códigos comuns de conduta.
II – Declaração sobre América Latina
1. A Assembléia do CMI se reúne pela primeira vez na América
Latina e deseja, antes de tudo, expressar seu profundo agradecimento às
Igrejas latino-americanas por terem acolhido a assembléia, ao Conselho
Latino-americano de Igrejas (CLAI) por seu trabalho em favor da construção
da unidade entre as Igrejas e ao Conselho Nacional de Igrejas Cristãs
do Brasil (CONIC) que, generosamente, convidou o CMI para celebrar esta Assembléia
neste país. A presente declaração reflete os problemas
e preocupações recebidas das igrejas latino-americanas.
2. O tema da assembléia “Deus, em sua graça, transforma
o mundo” recorda as diferentes transformações experimentadas
pela região no transcurso de sua história. Uma história
na qual, ao longo dos séculos, predominam a esperança, a vida
e a alegria como características da região e sinais da graça
de Deus. Uma história de transformações que continuam
acontecendo, inclusive, até agora. As eleições realizadas
recentemente em países da América Latina tiveram como resultado
a eleição do primeiro indígena como presidente da Bolívia
e a eleição, pela primeira vez, de uma mulher como presidenta
do Chile. Estes sinais de novidade política na região são
seguidos por outras mudanças que devem ser interpretadas no contexto
da história latino-americana para se discernir a presença de
Deus que renova toda a criação (Ap 21,5).
Recordando a história de América Latina
3. Depois de milênios de diferentes culturas indígenas, nas quais,
como nas civilizações Inca, Maya e Tiwanacota, se alcançaram
altos estágios de desenvolvimento, a conquista realizada pelas coroas
de Espanha e Portugal no século XVI configurou uma história
recente comum deste continente. Esta história, com um reconhecimento
especial das matanças de populações indígenas
e a introdução da escravidão pelos colonizadores, foi
relembrada especialmente em 1992 durante a comemoração dos quinhentos
anos de colonização por parte dos europeus. No século
XVIII as guerras contra espanhóis e portugueses abriram o caminho para
a liberdade para a maioria dos Estados da América Latina. Posteriormente,
durante a primeira metade do século XIX, a maior parte dos países
alcançou sua independência. Entretanto, esta independência
política deixou as diferentes nações numa posição
de dependência econômica.
4. Depois das guerras de independência, muitos dirigentes políticos
propugnaram pela unidade dos diferentes Estados latino-americanos e, durante
os últimos duzentos anos, foram feitas muitas tentativas para se desenvolver
uma unidade latino-americana. Atualmente, no marco das tendências políticas
mundiais que fomentam a integração regional, esta unidade é
vital. As igrejas da região afirmaram claramente que os atuais esforços
para construir pontes entre os Estados deveriam se basear não apenas
em acordos comerciais e econômicos, mas que deveriam responder também
às necessidades e direitos das pessoas, principalmente as débeis
e vulneráveis. Desta forma, o caminho para a unidade pode ser um signo
da irmandade a que Deus chama a todos os seres humanos.
5. Várias vozes da Assembléia assinalaram que a luta pela vida
e a dignidade tem sido uma experiência constante do povo latino-americano.
Ao longo da história tiveram que fazer frente à guerras dentro
dos Estados e entre eles, a confrontos, a regimes autoritários e à
ditaduras, assim como à políticas irresponsáveis aplicadas
por governos e empresas multinacionais que prejudicaram enormemente o maio
ambiente. É preciso render tributo ao testemunho de milhares de cristãos
e outras pessoas de boa-vontade que deram suas vidas pelos direitos humanos,
a dignidade e o cuidado da criação. Monsenhor Romero, em El
Salvador, Maurício Lopez, na Argentina, Chico Mendes, no Brasil, Yolanda
Céron, na Colômbia, são alguns dos milhares de nomes,
a maioria deles desconhecidos. O sangue destes mártires contribuiu
para fertilizar as sementes do Reino de Deus que deram frutos em termos de
solidariedade, vida e democracia.
Superação da pobreza e da injustiça
6. A distribuição injusta da riqueza, dos recursos naturais
e das oportunidades deu origem a um nível de pobreza que afeta de forma
trágica a região. Segundo estatísticas das Nações
Unidas, atualmente, da mesma forma que há decênios, mais de 40%
da população continua vivendo na pobreza e cerca de 20% vive
na pobreza extrema. Não se pode considerar isto separadamente da aplicação
de programas de ajuste estrutural aplicados pelos governos por exigência
das instituições financeiras internacionais como o Banco Mundial
e o Fundo Monetário Internacional. A privatização de
companhias estatais trouxe, a curto prazo, um alívio e certo bem-estar
econômico nuns poucos casos, mas, a médio e longo prazo, muitos
consideram que a aplicação deste tipo de políticas só
fez piorar a situação da região provocando enormes crises
econômicas em muitos países no final dos anos noventa e primeiros
anos de 2000. Embora, durante os últimos anos, a região pareça
ter-se recuperado destas crises em termos macroeconômicos, a pobreza
continua sendo um desafio para os governos e as sociedades e um escândalo
para as igrejas. Mesmo nos países onde a pobreza é relativamente
menor, a distância entre ricos e pobres é enorme e a distribuição
da riqueza continua sendo injusta.
7. A dívida externa significou uma pesada carga durante decênios.
As igrejas da região têm afirmado claramente que dívida
é injusta, ilegítima e imoral, porque foi contraída durante
ditaduras com a cumplicidade das instituições financeiras internacionais
e já foi paga. Entretanto a necessidade de continuar pagando o serviço
da dívida têm impedido a plicação de políticas
sociais eficazes na maioria dos países o que tem prejudicado gravemente
a educação, a saúde e as condições de trabalho.
Por outra parte, como conseqüência das crises econômicas
aumentou muito a emigração e milhões de latino-americanos
vivem agora em outros países da região, nos Estados Unidos ou
na Europa e as remessas de dinheiro, que enviam aos membros de suas famílias
residentes em seus países de origem, se converteu numa das receitas
mais importantes em alguns países latino-americanos.
8. Esta situação econômica torna ainda pior a exclusão
de grupos vulneráveis como os povos indígenas, os descendentes
de africanos e as populações rurais. Os povos indígenas
continuam lutando pelo reconhecimento de seus direitos. Os descendentes de
africanos, especialmente no Brasil, mas também em outros países
da região, sofrem ainda as com seqüências da escravidão
que lhes impediu de exercer plenamente seus direitos, já que continuam
padecendo o racismo, a violência e a discriminação. Numa
região onde a pobreza está relacionada, frequentemente, com
problemas relativos à posse da terra, os movimentos de camponeses sem-terra,
em diversos países, especialmente no Brasil, reclamam o acesso à
terra. As igrejas e o movimento ecumênico não podem deixar de
perceber a crise dos pobres e excluídos da região. A pobreza
é inaceitável, tanto mais quando a região é extremamente
rica em recursos naturais. A tragédia é que esses recursos foram
explorados de forma a destruir o meio-ambiente sendo a causa, por exemplo,
da poluição dos rios em extensas zonas. Mais ainda, todo o planeta
está ameaçado pelo desflorestamento da região amazônica.
Curando as feridas da violência
9. A violência continua sendo um dos principais problemas da região.
Alguns países continuam enfrentando as conseqüências da
violência política. Na Colômbia, por exemplo, o conflito
armado entre os protagonistas da política tem prejudicado enormemente
a sociedade civil. Milhares de pessoas tem sido mortas por causa deste enfrentamento,
em sua maioria inocentes, e há centenas de milhares de deslocados dentro
do país. O conflito transcendeu as fronteiras nacionais e repercute
gravemente nos países vizinhos. As igrejas colombianas têm intensificado
seu trabalho em favor das vítimas e trem apelado claramente ao governo
do país e aos grupos armados para que procurem uma solução
negociada do conflito que traga paz e justiça.
10. Na região e incluído nas preocupações das
igrejas da América Latina encontra-se o Haiti, outro país que,
ao longo dos últimos anos experimentou uma violência extrema
e uma crise política devida a fatores tanto internos como externos.
Apesar da presença da força estabilizadora das Nações
Unidas a violência continua, especialmente em Porto Príncipe.
As eleições realizadas recentemente, depois de muitas postergações,
embora sejam importantes para o necessário restabelecimento da democracia
no país, não trouxeram a paz. Ainda se faz necessário
e urgente um amplo diálogo nacional e um processo de reconciliação
capaz de fechar as feridas do país. A comunidade internacional deveria
intensificar seu apoio ao povo do Haiti em sua luta contra a pobreza e para
a reconstrução de instituições democráticas
e para o cuidado com o meio-ambiente.
11. A dramática situação que se vive nesses países
não pode ser considerada de forma isolada. Reflete um fenômeno
mais amplo que afeta a toda a região. A nova dinâmica desenvolvida
pelo militarismo durante os últimos anos, na região, pode chegar
a ser mais patente com o estabelecimento de novas bases militares dos Estados
Unidos em diferentes países, como Equador e Paraguai. Entretanto, a
influência dos Estados Unidos na região não é algo
novo. Durante décadas este país influiu nos processos de decisões
na política, na economia e na cultura, apoiou ditaduras e regimes autoritários
e, sob o pretexto de garantir a segurança do hemisfério formou
os militares latino-americanos.
12. Para o programa dos Estados Unidos na região, Cuba se constituiu
até agora num objetivo especial. O bloqueio imposto nos anos sessenta
pelo governo norte-americano continua afetando gravemente a população
cubana. Este bloqueio, condenado várias vezes pelo CMI, tornou-se mais
rígido durante o atual governo estadounidense. Apesar disso, Cuba conseguiu
estabelecer políticas eficazes em matéria de saúde, educação
e cultura. É preciso melhorar ainda mais os direitos civis e políticos
para que o país possa responder ao processo de transformação
econômica que se está produzindo. Tornam-se necessários
urgentemente espaços para o diálogo entre os distintos setores
da sociedade do governo.
13. A violência também é experimentada diariamente na
América Latina na forma de violência urbana, doméstica,
étnica, de gênero ou de juventude. As quadrilhas juvenis proliferam
na maioria dos países da América Central. As igrejas tem se
enfrentado especialmente com o problema principal da proliferação
de armas leves. A “Década para superar a Violência”,
durante 2006, oferecerá a oportunidade para se fazer frente, na região,
a algumas formas de violência e de reunir esforços das igrejas
para a construção de uma cultura da paz.
Luta pela vida e pela dignidade
14. Os povos da América Latina lutaram duramente para construir a paz
com justiça e estabelecer regimes democráticos. As vítimas
e as organizações de direitos humanos, junto com as igrejas,
formaram, em muitos países a vanguarda dessa luta.O sistema latino-americano
deveria ser reforçado para contribuir para a aplicação
do império da lei e enfrentar, com mais eficácia, as violações
dos direitos humanos e a impunidade em vários países.
15. Ainda assim, durante os últimos anos muitos países introduziram
mudanças significativas por meio de eleições presidenciais,
como expressão de uma democracia participativa dos povos. Em muitos
casos foram eleitos candidatos e partidos que demonstraram maior sensibilidade
às necessidades e aos direitos dos povos. Novos governos tem se posicionado
de forma mais decidida ante as instituições financeiras internacionais,
os acordos comerciais e as subvenções à agricultura dos
países do norte. Políticas internas mais respeitosas dos direitos
humanos tem sido produzidas para enfrentar a pobreza, a fome e outras necessidades
sociais. Estes governos têm suscitado esperanças na região
e fora dela, embora não se possa deixar de levar em conta as fortes
limitações que enfrentam e as contradições e a
corrupção que ameaçam alguns deles.
Acompanhamento das igrejas aos povos da América Latina
16. O Cristianismo foi trazido à região junto com os colonizadores
durante o século XVI e os séculos seguintes e não esteve
isento de controvérsias. Em muitos casos, a perseguição
daqueles que não aceitavam a fé cristã provocou milhares
de mortes durante esses séculos. Mas, ao longo da história,
a experiência de fé dos indígenas, dos africanos, dos
mestiços e dos descendentes de europeus desenvolveu o rosto latino-americano
do Cristianismo.
17. Durante muito tempo América Latina foi conhecida como um continente
católico-romano. Mas a composição do Cristianismo foi
mudando com o passar dos séculos . No século XIX, por exemplo,
chegaram para trabalhar no continente as igrejas protestantes e anglicanas
e se estabeleceu a igreja ortodoxa, o que contribuiu para a construção
do tecido social de diferentes comunidades. Nas últimas décadas,
as novas igrejas evangélicas, principalmente as pentecostais, foram
crescendo sistematicamente e, em alguns países, chegaram a alcançar
porcentagens importantes da população. Respondendo à
necessidade de oferecer tratamento igualitário a todas as religiões,
exigido por muitas igrejas membros do CMI, foram introduzidos melhoramentos
em algumas legislações nacionais para o reconhecimento de todos
os seus direitos.
18. O ecumenismo contribuiu, principalmente nos tempos recentes, de forma
decisiva para a história da América Latina. As igrejas e as
organizações ecumênicas da região desempenharam
uma função decisiva na luta contra os regimes ditatoriais e
autoritários e na defesa dos direitos humanos em toda a região.
O CMI, por meio de diferentes programas, em particular por meio do Escritório
de Direitos Humanos para a América Latina, juntamente com o CLAI, acompanhou
de perto e apoiou as igrejas e as organizações ecumênicas
de direitos humanos e de vítimas em seu esforço para combater
a impunidade, obter acordos de paz depois das guerras civis e para fortalecer
a democracia e conseguir a reconciliação.
19. A luta das igrejas em favor da dignidade humana pode ser contada a partir
da defesa fervente das populações indígenas realizada
por cristãos como Frei Bartalomé de las Casas no século
XVI. A luta pela dignidade humana foi sempre um dos fundamentos da teologia
latino-americana. Esta consideração especial dos pobres, dos
marginalizados e dos excluídos nas diferentes sociedade ao longo da
história foi o fundamento de um enfoque teológico diferente
conhecido como a Teologia da Libertação. Profundamente encarnada
nas lutas sociais das décadas de 1960 e 1970, esta teologia ampliou
, recentemente, seu enfoque para as dimensões econômicas, ecológicas,
de gênero e inter-religiosas. Por isso, o Cristianismo latino-americano,
sustentado nesta metodologia teológica enraizada numa profunda experiência
espiritual chegou a e4nvolver-se profundamente na defesa, no cuidado e na
celebração da vida em suas múltiplas manifestações,
reconhecendo a presença de Deus em cada expressão
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