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Apesar de trazer avanços, lei antidrogas não é suficiente, dizem especialistas
Por: Fonte: Último Segundo em 08/03/2009
Data: 23/06/2009


“Acho que no Brasil ainda não dá pra liberar a maconha. O tráfico é uma coisa muito ruim, mas a legalização pode virar jogo político. Só quando a cabeça da população mudar isso pode acontecer”. A afirmação é de Daiane, estudante de Relações Públicas da Universidade de São Paulo. A jovem, que gosta de sair para festas e baladas, diz também que costuma usar a droga aos finais de semana.

A aparente contradição presente na vida de Daiane retrata bem a situação da maconha no Brasil. Enquanto recente relatório da ONU aponta que a droga estaria “mais potente”, retoma-se a discussão da legalização na Comissão Latino–Americana sobre Drogas e Democracia, com a presença, inclusive, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Se a Lei Antidrogas nº 11.343, que desde outubro de 2006 prevê penas mais leves para o usuário, tornou, na opinião de especialistas, mais fácil a busca dos dependentes pelo tratamento; por outro lado, o consumo da droga continua aumentando nos últimos anos. Segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), existem quase 160 milhões de usuários de Cannabis no mundo.

A maconha, que já suscitou debates calorosos ao longo das décadas, continua levantando opiniões e fatos aparentemente opostos, mas que mostram a complexidade de uma questão que, se não tem resposta definitiva, também não parece ter fim próximo. A seguir, alguns pontos dessa discussão.

Começo

Daiane, de 21 anos, afirma que costumava odiar os chamados “baseados”. “Sempre tive amigos que fumam maconha, e eu na realidade odiava, achava um absurdo as pessoas fumarem”. A aversão, porém, perdeu para a curiosidade. “Namorei um cara que fumava todo dia. Um dia fiquei com vontade e experimentei”, lembra a estudante.

“A maioria começa pela curiosidade mesmo”, confirma a psicóloga Ana Sant’Anna, que trabalha na recuperação de dependentes químicos no Hospital Vera Cruz, em São Paulo. “Nem todo mundo que experimenta vai continuar a usar. Mas há esse perigo de virar um dependente”, diz. É estimado que cerca de 10% das pessoas que usam frequentemente maconha desenvolva algum grau de dependência.

Segundo Marcelo Niel, psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo, mesmo quando o jovem passa por esse processo de “experimentação”, os pais devem se calçar de informações para lidar de maneira correta com ele. “A maioria passa por um processo de experimentação sem maiores danos, mas muitos indivíduos descobrem que o filho está em contato com a droga e já interna, sendo que ele está numa fase anterior à dependência”, diz.

Para Daiane, que também já usou ecstasy e LSD em festas, a dependência não é considerada uma ameaça: “Acho que quem vira um viciado é porque tem a cabeça muito fechada e fraca. Você não pode fumar todo dia e fazer a sua vida girar em torno disso”, acredita. Porém, a estudante admite que já teve medo dos efeitos da droga. “Tinha medo justamente de precisar fumar todo dia e de ter as minhas capacidades cognitivas afetadas”.

De acordo com o professor-doutor do Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica da FMRP da Universidade de São Paulo, José Alexandre Crippa, a estudante está assumindo mais riscos do que imagina. “A maconha aumenta a chance de quadros de psicose, ansiedade e depressão em pessoas vulneráveis”, afirma. Mesmo para quem usa a droga pela primeira vez, segundo ele, há perigo: “A pessoa que usa pela primeira vez tem mais chances de ter crise de pânico, além de problemas psicóticos curtos e breves”.