Paula Autran
RIO - Sob a batuta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi lançada nesta quarta-feira no Rio a Comissão Latino-americana sobre Drogas e Democracia. A iniciativa também é liderada por César Gaviria e Ernesto Zedillo, ex-presidentes de Colômbia e México, respectivamente.
A comissão foi criada em resposta a uma meta que as Nações Unidas estabeleceram há dez anos. Em 1998, a entidade deu o prazo de uma década para que a questão da produção e do comércio de drogas no mundo fosse resolvida. A comissão da ONU vai se reunir no início do próximo ano para avaliar a situação.
FH comenta sobre os maiores obstáculos na América Latina:
A comissão latino-americana, explicou Fernando Henrique, foi criada para levar um ponto de vista latino-americano para as discussões na ONU. Segundo o antropólogo e diretor da ONG Viva Rio, Rubem Cesar Fernandes, a questão das drogas na Europa é vista mais pelo aspecto da saúde pública e não tem o tom social do problema na América Latina. Os particpantes do grupo voltam a se reunir em setembro, na Colômbia, e em fevereiro, no México.
- Os gastos com o combate às drogas são enormes. É quase o mesmo valor gerado pelo comércio das drogas, que movimenta aproximadamente US$ 60 bilhões. O combate custa US$ 40 bilhões e a eficácia é relativa - comentou FH. - Queremos discutir como melhorar isso. Não é um problema fácil e tem que ser enfrentado - acrescentou.
Perguntado se a discriminalização das drogas seria um bom caminho a ser seguido, FH respondeu:
- A discriminalização é um tema a ser conversado. É preciso avaliar, pois não é tão simples assim. O que se sabe é que só a repressão não resolve. A prevenção talvez seja mais eficaz.
O ex-presidente declarou, ainda, que países que tiveram experiências mais liberais com as drogas, como Holanda e Grã-Bretanha, enfrentam críticas.
Zedillo participou do evento por meio de vídeo-conferência. Dos 18 participantes esperados, sete não compareceram, como os escritores Paulo Coelho e Mario Vargas Llosa - este do Peru.
O ex-presidente da Colômbia, que governou o país de 1990 a 94 - no período de Pablo Escobar à frente do Cartel de Medellín - afirmou que o tema impacta as principais instituições do continente:
- Temos nós, na Colômbia, muito a acrescentar sobre como enfrentar o tráfico. Esse tema é um desafio para as nossas democracias - disse Gaviria, defendendo discussão sobre a despenalização do consumo de drogas:
- Os instrumentos usados contra o álcool e o cigarro podem ser utilizados com outras drogas. Não é mais possível discutir apenas como um problema criminal, mas também de saúde pública.
Por videoconferência, Zedillo considerou o narcotráfico como um dos principais problemas da América Latina:
- É a principal ameaça à segurança pública de nossas nações.
O vice-presidente das Organizações Globo, jornalista João Roberto Marinho, é um dos membros da comissão. Clique aqui e veja a lista completa