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Impactos das ações juvenis para a superação da violência no município de Floresta (PE)
Por: KOINONIA/Pólo STTR-SMSF
Data: 05/09/2008


RESUMO:

A pesquisa sobre “Ações juvenis para superação da violência na região do Submédio São Francisco” foi realizada em 2005 e tornou possível a obtenção de dados acerca da violência, das possibilidades de superação desta e dos efeitos das ações desenvolvidas por KOINONIA juntamente com o Pólo Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Submédio São Francisco PE/BA.

O protagonismo juvenil é um elemento bastante relevante tanto nas representações dos entrevistados como na realidade do município e nas atividades lúdico-político pedagógico de KOINONIA/Pólo.

A partir das análises dos dados obtidos no município de Floresta é possível observar a carência da comunidade por políticas sociais na direção do cumprimento dos Direitos Humanos, como, por exemplo, acesso à saúde e educação - estes vistos como mecanismos de superação da violência.

Percebe-se, ainda, a preocupação da mobilização da sociedade local através do respeito à integridade física e moral, que inclui a população, o governo e a polícia, que deve ser treinada para promoção da cultura pela paz, de acordo com os entrevistados.

Na direção das ações de organizações populares, inclusive as desenvolvidas por KOINONIA/Pólo, os entrevistados opinaram que elas cooperam para a diminuição da violência, em especial atividades lúdico-pedagógicas, baseadas na identidade rural, na realidade local e nos direitos do cidadão. Ainda ressaltaram a importância de atos pacíficos e da negociação de conflitos como maneiras de buscar o cumprimento dos direitos através da não violência.

 

Superação da Violência. Pesquisa. Brasil. Pernambuco. Floresta

 

 

ABSTRACT:

The research on “Youth Actions to overcome violence in the region of the Sub-middle São Francisco River” was developed in 2005.  It made possible the gathering of information about violence as well as about the possibilities of overcoming it. The research also allowed to identify the results of the actions developed by KOINONIA and by the Polo Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Submédio São Francisco (Union Center of the Sub-middle region of the San Francisco River), in the states of Pernambuco and Bahia.

Youth protagonism is an important element, both in relation to the representative role of those who were interviewed and in relation to the reality of the cities and of the activities on political education through recreational means developed by KOINONIA in partnership with the Union Center.

From the analysis of the information collected in Floresta, it is possible to observe the need of the community for public policies to guarantee Human Rights such as access to health care and education. These policies are seen as mechanisms to overcome violence.

In addition, there is a demand for mobilizing the local civil society around actions based on respect for physical and moral integrity of all, including the population, the government and the police. The latter, according to the youth interviewed, must be trained to promote a culture of peace.

With regards to the actions of popular organizations, including the ones developed by KOINONIA and the Union Center, the youth interviewed were of the opinion that the special activities of political education through recreational means contribute to the reduction of violence. These activities are based on youth rural identity, local reality and Citizens’ rights. The youth have also emphasized the importance of peace and conflict resolution actions as non-violence ways to guarantee their rights.

 

Overcoming of the Violence. Research. Brazil. Pernambuco. Floresta

 

 

Pesquisa sobre Ações Juvenis para a Superação da Violência na Região do Submédio São Francisco

Relatório do município de Floresta (PE)

“A violência do cotidiano e uma luz para superação”

 

Por: Mariana de Almeida Vieira, Graduanda do curso de Ciências Sociais – UFF/RJ e estagiária do Programa TRD, de KOINONIA.

 

 

SUMÁRIO

Contexto histórico municipal

Sobre ações e relação de KOINONIA/Pólo

Metodologia da pesquisa

Perfil dos entrevistados

Apreciação dos resultados

– Percepção de violência

– Percepção de superação da violência

– Efeito das ações KOINONIA/Pólo

Conclusão

Bibliografia

 

 

Contexto histórico municipal

A unidade regional e territorial de Floresta está inserida no Polígono das Secas e apresenta um regime pluviométrico marcado por extrema irregularidade de chuvas, no tempo e no espaço. O clima é do tipo Tropical Semi-Árido, com chuvas de verão. Nesse cenário, a escassez de água - que associada com as precárias e insuficientes políticas públicas sociais e com as desigualdades sociais, política e econômica - constitui uma dificuldade ao desenvolvimento socioeconômico e, até mesmo, à subsistência da população. O município está inserido na unidade geoambiental da Depressão Sertaneja, que representa a paisagem típica do semi-árido nordestino, os relevos são isolados e testemunham os ciclos intensos de erosão que atingiram grande parte do sertão nordestino. A vegetação é basicamente composta por Caatinga Hiperxerófila com trechos de Floresta Caducifólia.

Além destas características geomorfológicas, climáticas e ambientais, o município sofre com o efeito da Barragem de Itaparica; que veio acompanhado da não-conclusão do projeto de reassentamento irrigado - para felicidade dos agrocapitalistas da região-; do desemprego; da perda da posse da terra; e da migração forçada, ou seja, sem a devida sustentabilidade social e hídrica.

Este projeto de reassentamento irrigado foi conseqüência da luta dos trabalhadores rurais daquela região, representados pelo Pólo Sindical do Submédio São Francisco, que se constituiu como uma organização de trabalhadores rurais em defesa dos direitos dos camponeses perante a Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), articulando os Sindicatos de Trabalhadores Rurais para além dos limites dos territórios estaduais, com o fim de que conquistassem as infra-estruturas físicas, sociais e de irrigação do projeto; para que pudessem produzir e comercializar livremente. E é a partir desse choque entre trabalhadores e o Estado que tais movimentos criam suas representações e trazem propostas alternativas para o cenário político da região.

Floresta ainda sofre com o descaso do poder público e com a presença do agronarcobusiness. Este último é um modelo produtivo muito lucrativo que se tornou uma alternativa econômica aos pequenos produtores, devido à falta de políticas agrícolas mais adequadas aos pequenos produtores. Além da competição com estes trabalhadores rurais que se dedicam à agricultura familiar, tal negócio se torna uma ameaça à sobrevivência e segurança da comunidade e torna-se um fator de desarticulação social.

A questão fundiária é bem delicada, havendo lugar para riqueza e miséria e sendo marcada por conseqüências desestruturantes da vida camponesa. A concentração de terra é um obstáculo à agricultura camponesa, pois favorece os grandes fazendeiros e empresários, além da grande concentração do poder político nas mão desses, criando a utilização da máquina pública a favor dos grandes latifúndios e agro-exportadores, em detrimento dos pequenos produtores e da agricultura de subsistência/familiar.

O município possui um grande histórico de violência, apresentando altos índices de racismo, homicídios, pobreza, desigualdade e exclusão social e ainda brigas entre famílias (Iulianelli: 2007). Floresta tem seu suporte econômico vinculado a agropecuária, classificado em primeiro lugar em Pernambuco, na criação de caprinos. Na agricultura destacam-se a cebola, a melancia, sendo também um dos maiores produtores de tomates da região (IBGE: 2000). Dados estes oficiais. Entretanto é constatada a produção ilícita do plantio de maconha. (Iulianelli: 2000; 39).

Dados do censo IBGE/2000 afirmam que a população total residente é de 49.458 habitantes. São 24.092 homens e 25.366 mulheres. A população residente na zona urbana de 62,9%, na zona rural de 37,1% e média de moradores por domicílio de 4,5 pessoas e taxa anual de crescimento demográfico (91/2000) –1,75.

A renda média mensal do chefe do domicílio é 2,36 salário mínimo ( R$566,40 abril/ 2004). Existem 3.951 pessoas responsáveis pelo domicílio, com renda. Por outro lado, sem rendimento têm 1.357 pessoas responsáveis pelo domicílio. Os indicadores do índice de desenvolvimento humano municipal (IDH-M/ 2000) –PNUD/IPEA/FJP- é de: 0,698

A rede de saúde dispõe de 2 hospitais, 7 ambulatórios, 124 leitos e 15 agentes comunitários de saúde. Referente a saneamento, dos 5.308 domicílios existentes 3.231 (60,9%) são ligados a rede geral; 815 (15,4%) têm abastecimento por poços ou nascente e o restante 1.562 (23,8%) é abastecido de outra forma.

 

Sobre ações e relação de KOINONIA/Pólo

KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço e o Pólo Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Submédio São Francisco têm destaque na luta social e na recuperação da noção político pedagógica. Esta última promove a sociabilização e o conhecimento da realidade em que estão inseridos; no caso os jovens rurais sertanejos. Tais ações têm o cunho de superação da violência na região. Elas possuem um conteúdo sócio-educativo e proporcionando maior escolarização dos jovens participantes.

Essa história de luta dos trabalhadores rurais através do Pólo Sindical começa quando o Governo traça uma estratégia de política energética, implicando na construção de usinas hidrelétricas no Vale do São Francisco. Tais construções traziam conseqüências desastrosas para a população local e para o meio ambiente, tais como o despejo desta população, se dando no deslocamento compulsório e na ocupação para irrigação; desemprego; perda da posse da terra; e destruição da fauna e flora.

Em 1986 o Pólo Sindical dos Trabalhadores Rurais do SMSF teve uma vitória histórica: a ocupação do canteiro de obras de construção da Barragem de Itaparica e no Acordo firmado com o governo federal por meio da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), que coloca em questão um pacote de medidas dialogadas entre trabalhadores rurais e representantes do governo federal com, inclusive, o reassentamento contendo lotes irrigados. Tal acordo tinha em vista uma infra-estrutura dos projetos, prestação de serviços sociais básicos, apoio e assistência à produção, comercialização e técnica.

Nesse mesmo contexto, coexistia na região, o crescimento da produção agrícola da cannabis sativa, já identificada anteriormente e que se intensificou. Tal produção era vista com maus olhos pelo Pólo e pela maioria dos trabalhadores rurais, devido ao imaginário coletivo negativo em torno da questão, à pressão social, consequentemente, e pelo fato de ser uma substância qualificada como ilícita. Gera-se, então, um clima tenso, de repressões policiais, violência e grande visibilidade na mídia tradicional hegemônica.

Assim, o Pólo foi construído e reconhecido socialmente como representante e proponente de um protagonismo político e econômico dos trabalhadores e pequenos produtores. Contudo, na contramão, o governo federal (em “coligação” com o Banco Mundial) e o narcotráfico surgem como dificultadores de uma melhoria da qualidade de vida da população local, surgindo como elementos proibitivos, repressivos, de privatização, e de riscos e insegurança, respectivamente.

Mas apesar de tais acordos e lutas, ainda era muito visível o atraso dos reassentamentos, a falta de infra-estrutura e a operação parcial dos projetos. Contudo, o município de Floresta, apesar de diretamente atingido pelas inundações da Barragem, não abrigou projeto de reassentamento. Estas agravantes vão gerar o aumento da situação violenta da região. (Iulianelli:2000; 45)

A partir dessas demandas é que KOINONIA, como assessoria político-pedagógica, começou a interagir com o Pólo, para o fortalecimento do trabalho já desenvolvido por ele e com os jovens rurais sertanejos, colaborando com o movimento sindical. Isso se deu através de debates críticos, realização de atividades de caráter lúdico-pedagógicas, promoção do resgate da identidade do jovem rural, conhecimento e divulgação da história de lutas de Itaparica e ainda incentivando a produção intelectual, cultural, a auto-estima e a subjetividade dos jovens. Ainda provocando a necessidade de refletir e cobrar do poder público políticas públicas.

 

Metodologia da Pesquisa

A pesquisa teve como objetivo verificar, sistematizar e analisar as representações de violência vividas pela população da região do Submédio São Francisco (SMSF). E é através deste relatório que poderemos analisar tais representações e os processos de violência, mais especificamente no município de Floresta (PE). Este município se inclui numa região que está no âmbito do desenvolvimento do País e da região Nordeste. Sua comunidade sofre com a vulnerabilidade social verificada a partir dos problemas de natureza político-econômicas e sociais e da seca como agravante. (Iulianelli: 2007; 105). Visando especificar tais conclusões sobre a realidade violenta da região, podemos observar a tabela abaixo:

 

Tabela sobre os índices de exclusão social do município de Floresta

 

Posição no Ranking Nacional

Índice de Pobreza

Índice Juventude

Índice Alfabetizaçã

Índice Escolaridade

Índice Emprego Formal

Índice Violência

Índice Desigualdade

Índice Exclusão

3946°

0,261

0,509

0,691

0,395

0,054

0,824

0,04

0,354

Fonte: M. Pochman. Atlas de Exclusão Social – referentes ao ano de 2000.

 

Para melhor objetivar a pesquisa, estruturou-se um questionário, desenvolvido por KOINONIA juntamente com os jovens participantes e o Pólo. Este foi dividido em quatro partes: a primeira para a percepção da existência da violência, a segunda da possibilidade de sua superação e a terceira para verificar os impactos das ações desenvolvidas por KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço /Pólo Sindical Trabalhadores Rurais do Submédio São Francisco juntamente com a juventude rural local visando sua superação.

Para melhor sistematizar tais representações de violência, objetivando a pesquisa, houve a necessidade de se dividir em três aspectos que as identificam, como podemos observar na tabela abaixo tais disposições. A partir destes aspectos foram reconhecidas as disposições cognitivas (reconhecimento), valorativas (apreciações), e atitudinais (posicionamento) dos entrevistados. Este instrumento de análise torna-se particular e com poucas generalizações, já que a especificidade da realidade e as opiniões de seus atores são levadas em conta, permitindo se constatar o reconhecimento das situações violentas, da possibilidade de sua superação e dos efeitos das ações juvenis para tal superação. Através do método quantitativo dos questionários é que podemos delinear informações qualitativas, visando uma análise sociológica e facilitando observações dos atores sociais, representações sociais e das conseqüências da desigualdade social e da violação do Estado de Direito.

 

 

Percepções Disposições

Violência

Superação da violência

Efeitos das ações juvenis para a superação da violência

Cognitiva(Reconhecimento)

4 questões

3 questões

6 questões

Valorativa(Apreciações)

7 questões

3 questões

6 questões

Atitudinal(Posiciona mento)

10questões

11 questões

17 questões

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

A pesquisa em questão foi desenvolvida em função de tais conflitos e processos de violência submetida pela juventude daquela região, sendo esta a unidade de análise empregada, tendo em vista seu papel social de co-responsável pelo destino dela própria e da sociedade. Tal pesquisa teve como objetivo central avaliar os impactos das ações juvenis para a superação da violência apoiadas e realizadas por KOINONIA/Pólo.

A equipe de KOINONIA junto com um grupo de jovens pesquisadores criou este instrumento de avaliação para inquirir as percepções sobre a violência, a superação da violência e os efeitos das ações juvenis para a superação da violência. Para que a pesquisa fosse melhor viabilizada, o questionário foi feito por KOINONIA/Pólo e principalmente por jovens, da própria região, que passaram por um processo de capacitação e treinamento, tendo como critérios a conclusão do ensino médio e participação de atividades sócio-educativas desenvolvidas por KOINONIA/Pólo.

Foi estruturado um conjunto de questões abertas, semi-abertas e fechadas, formuladas a partir das observações e experimentações da realidade sertaneja dos jovens pesquisadores. Para delimitar a juventude pesquisada foi utilizado o corte etário de 15-32 anos, recorte etário este utilizado pela Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura (Contag) dentre as quais seccionadas por protagonistas juvenis rurais populares, estudantes, jovens trabalhadores rurais, inclusive na economia de substâncias qualificas como ilícitas. Além desses grupamentos foram entrevistados outros atores socais, como: autoridades públicas, religiosas e educadores. Foram selecionas 125 pessoas. Sendo estas, 73 homens (58,4%) e 52 mulheres (41,8%).

Considerando o protagonismo juvenil e vinculado ao caderno de Jovens - que procurou observar os olhares da juventude diante das suas experiências nos trabalhos com o Pólo e KOINONIA, seus aprendizados e suas opiniões - a pesquisa teve caráter participativo, ou seja, a comunidade de jovens da região participou de fases importantes desta, desenvolvida e efetuada com suas experiências e saberes sobre a realidade da região, devido a tal problemática violenta e o limite da pobreza atingi-los diretamente. As drogas, o alcoolismo, e o narcotráfico são as principais causas descritas pela juventude.

Para melhor elaboração da pesquisa e aplicação do questionário foi realizado um processo de formação de jovens sertanejos, com alguns critérios, como conclusão do ensino médio, participação em alguma atividade juvenil desenvolvida por KOINONIA/Pólo e conhecimento crítico da região do SMSF.

Esse protagonismo trata-se de ações juvenis coletivas e participantes – nelas se constroem a autonomia dos participantes e envolvimento da coletividade com a ação. Sendo este, um modelo pedagógico de ação, para a construção de um processo de intervenção sociocultural (Fraga e Iulianelli: 2003; 54). De acordo com essas ações, abaixo, podemos observar a tabela de ações citadas que os entrevistadores e entrevistados participaram, desenvolvidas com os jovens da região:

 

Atividades citadas

Freqüência

2º Festival Cultural Fome Zero

45

1º Festival Cultural Velho Chico 

28

Não respondeu  

27

Acompanhamento Coletivo Jovem Pólo

27

Seminário Educação no Campo

25

1ª Gincana Cultural Identidade Jovem Rural

23

Seminário Político Sindical Rural da Juventude

23

1º Encontro de Jovens Rurais SMSF

22

Não sabe  

18

2ª Gincana Cultural Luta pela Paz 

18

Inválidos

17

1ª Olimpíada Juventude Rural SMF

14

Seminário Direitos dos Trabalhadores Rurais SMSF

14

Curso Agentes Culturais (1ª turma)

17

Curso Agentes Culturais (2ª turma)

13

Encontro e Reuniões do Pólo 

13

Encontro Intercâmbio Jovens Rurais SMSF

12

1º Encontro de Jovens Agricultores SMF

9

Encontro GT Educadores Jovens Rurais

7

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

Perfil dos Entrevistados

 

Cor/Raça

Dentre os entrevistados, em relação à cor e raça a maior parte se declara como parda, sendo 32,8% das respostas, ou seja 41 pessoas; 30,4% se caracteriza como moreno(a), 38 pessoas; declarantes da cor branca encontramos 19,2%, ou seja, 24 pessoas. Já as que se declararam negras temos apenas 8%, significando 10 pessoas; 2,4%, ou seja, 3 indivíduos, não sabiam responder e o restante 9,4% se dividiram entre amarela, preta, cabocla e indígena.

 

Cor/Raça

Freqüência

Porcentagem

Parda

41

32,8

Moreno (a)

38

30,4

Branca

24

19,2

Negra

10

8

Não Sabe

3

2,4

Amarela

3

2,4

Caboclo

2

1,6

Preta

2

1,6

Indígena

1

0,8

Inválido

1

0,8

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

Religião

Quanto a religião, 87,2% se afirmaram católicas, representando 109 pessoas; 6,4% dizem não ter religião, ou seja 8 pessoas; sendo o restando 6,4% distribuídos entre as religiões evangélicas, cristã e umbandista.

 

Religião

Freqüência

Porcentagem

Católica

109

87,2

Não tem religião

8

6,4

Evangélico

5

4

Cristã

1

0,8

Umbandista

1

0,8

Inválido

1

0,8

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

Escolaridade

Já a escolaridade dos entrevistados, 96,8% sabe ler e escrever (alfabetizado), totalizando121 pessoas; apenas 1,6% sabem assinar o nome (analfabeto funcional/semi-analfabeto), ou seja, 2 pessoas; e o restante, 1,6%, são de não alfabetizados ou não responderam.

 

Escolaridade 

Freqüência

Porcentagem

Sabe ler e escrever (alfabetizado)

121

96,8

Analfabeto funcional/ Semi-analf.

2

1,6

Não alfabetizado 

1

0,8

Não respondeu 

1

0,8

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

Renda familiar

Em relação às condições de vida e renda dos entrevistados de Floresta, a renda familiar da maior parte é de 1,5- 2 salários mínimos (390 a 520 reais), representando 24%, 30 pessoas. Com 2-3 salários mínimos vivem 13,6%. 11,2%, ou seja, 14 respondentes, dizem viver com renda familiar de apenas 0,5-1 salário mínimo. Sendo que 55,2% moram em domicílios com 4 a 6 pessoas e 4,8% com até 10 indivíduos.

 

Renda Familiar

Freqüência

Porcentagem

1,5-2 SM (R$390-520,00)

30

24

2-3 SM (R$520-780,00)

17

13,6

3-4 SM (R$780-1.040,00)

16

12,8

0,5-1 SM (R$130-260,00)

14

11,2

Nenhuma renda declarada

12

9,6

1-1,5 SM (R$260-390,00)

8

6,4

4-5 SM (R$1.040-1.300,00)

7

5,6

5-10 SM (R$1.300-2.600,00)

7

5,6

Não sabe 

4

3,2

Acima de 10 SM (R$2.600,00)

4

3,2

0-0,5 SM (R$0,00-130,00)

2

1,6

Não respondeu

1

0,8

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

Renda pessoal

Já a renda pessoal declarada, 33,6% declarou não ter nenhuma renda, ou seja, 42 pessoas; 21,6% possui renda de 0,5-1 salário mínimo, aproximadamente de 130 a 260 reais; 12,8% responderam receber até meio salário mínimo, ou seja, 16 entrevistados. Encontramos apenas 4,8%, 6 pessoas, declarando receber de 2-3 salários mínimos. Entretanto, considera-se que 59,2% dos declarantes têm grau de parentesco como filho/filha do chefe de família, este caracterizado pela unidade da sociedade rural de autoridade patriarcal.

O perfil médio dos entrevistados é constituído por jovens, entre 15 e 34 anos, que moram, em sua maioria, com 4 a 6 pessoas no mesmo domicílio, sendo que em média apenas 2 pessoas recebem algum tipo de renda. Vivem com renda familiar de 1,5 a 4 salários mínimos e os próprios com renda, em média, de meio salário mínimo ou com nenhuma renda, sendo alfabetizados e cursando o ensino médio. São declarantes como pardos e morenos, além de católicos e praticantes.

 

Apreciação dos resultados da pesquisa sobre percepções da existência e da superação da violência e dos efeitos das ações

 

1 – Percepção da violência

O primeiro bloco do questionário conta com 27 perguntas (abertas, semi-abertas e fechadas). Por meio delas procurou-se levantar a percepção e a representação da violência para os entrevistados, imersos no contexto e na vida social da região de Floresta. Dos processos violentos pôde-se verificar que estão relacionados com as questões de territoriedade, desigualdade social, fatores institucionais (Estado) e as raízes racistas e machistas.

 

1.1. Aspecto cognitivo

Dos 125 entrevistados, 121 disseram já terem ouvido falar, pelo menos uma vez, em acontecimentos violentos no município. Se fazendo necessária a identificação de casos violentos ocorridos ou que tinham notícias a partir de suas impressões.

Foram citadas expressões que coletivamente se usam para descrever situações de violência. A partir disto houve um mapeamento das situações mais correntes como: o racismo, os homicídios, os assassinatos e as tentativas de homicídios. Posteriormente foi pedida a freqüência de cada uma das situações usando como expressões de referências quantitativas: ocorre muito, ocorre às vezes ou não ocorre.

As situações esporádicas, ou seja, que ocorrem às vezes foram: as agressões físicas em casa (62,4%), agressão física fora de casa (55,2%), assalto à casas (70,4%) ,roubo/furto à roça (52%). O curioso destes dados citados é que, na maioria, as respostas mais dadas depois da esporadicidade, foi de que ocorrem muito, como é o caso da agressão física em casa e fora de casa, por exemplo: 24% e 42,4%, respectivamente.

As situações violentas que ocorrem com mais intensidade são: assalto fora de casa (56%), racismo (43,2%), homicídio/assassinato (56,8%) e tentativa de homicídio (50,4%). Os homicídios e tentativas fazem parte de um dado bastante aparente, ou seja violência contra a pessoa. Já para nenhuma ocorrência encontramos expulsão de terra (39,2%) e trabalho forçado na roça de maconha (44%); este último, um dado talvez curioso, pelo assunto sobre a cannabis sativa ser delicado, por haver uma repressão e um preconceito muito grande. É interessante notar que a segunda maior quantidade de respostas sobre a substância ilícita, neste caso, ou a “falta dela”, foi de não sabe/não respondeu, reafirmando a conclusão acima.

Foram apontadas algumas características que o senso comum comunitário avalia como causa da conjuntura violenta em Floresta, tais como: alcoolismo/embriaguez (muito: 88%; pouco: 12%); ganância/vontade de ter dinheiro (muito: 79,2%; pouco: 19,2%); perversidade/maldade/crueldade (muito: 78,4%;  pouco:20%); pobreza/necessidade econômica (muito: 63,2%; pouco: 29,6%; nenhuma: 7,2%); e posse de armas (muito: 84%; pouco: 12%; nenhuma: 3,2%). Assim podemos notar que o alcoolismo é bem presente e bem representado na forma de violência, assim como a posse de armas.

Todas essas características parecem ser bem presentes nas representações e na vida cotidiana social da comunidade. Ressalta-se, ainda que os maiores dados quantitativos são de natureza individual e interpesssoal; somente a que não possui tal característica direta, devido a outros fatores não apenas pessoais (pobreza,necessidade econômica), teve menor número de respostas quantitativas.

Quanto a percepção acerca da violência, 80% declara haver atos de arbitrariedade policial, tendo apenas 12% que responderam não ocorrer.

Podemos, assim, observar que a violência é mais percebida em casos de ações contra pessoas, principalmente estupros à mulheres adultas e fora do âmbito doméstico e menos sentida em casos contra a propriedade, por exemplo. Havendo, assim, uma supressão do direito do outro indivíduo, verificado consideravelmente pela população entrevistada.

 

1.2. Aspecto Valorativo

De acordo com a opinião dos entrevistados em relação a culpabilidade da presença de casos violentos e conflitos latentes em Floresta, revela que o governo é o maior responsável, seguido dos políticos e de todas as pessoas em geral; e o quarto mais citado é a polícia, como observamos na tabela abaixo.

 

Tabela de Culpa

Freqüência

Porcentagem

Do Governo

60

48

Dos políticos

51

40,8

De todas as pessoas em geral

46

36,8

Da polícia

44

35,2

Do agressor que cometeu a violência

38

30,4

Da própria pessoa que cometeu a violência

14

11,2

Outros sem complemento

9

7,2

Não sabe de quem é a culpa

2

2,5

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

Comparando com as respostas gerais de todos os municípios - onde a maioria respondeu a culpa ser de todas as pessoas em geral e em segundo lugar do governo, seguido da polícia - demonstra, talvez, uma consciência política maior da população de Floresta. Ou seja, eles atribuem à esfera política e pública a responsabilidade da existência de violência, esclarecendo a falta de cumprimento dos direitos e políticas públicas. A população vê o Estado como o maior responsável pelos meios de coação, atuando sobre a liberdade dos indivíduos, podendo se entender como certa conscientização política dos que sofrem com esse fenômeno contra as suas condições de existência.

A fim de saber a realidade dos jovens neste contexto foi pedido para as pessoas citarem os casos mais graves de violências cometidas por estes nos últimos dois anos, dando 3 exemplos. Os casos mais citados foram de um jovem que assassinou uma pessoa, a prisão de jovem, 27 pessoas cada caso, e estupro de crianças citado por 19. Podemos notar que o segundo caso mais citado quem sofreu foi um jovens e não quem cometeu a ação. E ainda ressaltar que a quantidade de infrações e desrespeito ao outro cometido por jovens relaciona-se com assassinatos e homicídios basicamente, como observamos na tabela abaixo:

 

 

Freqüência

Percentual

Jovem assassinar uma pessoa

27

21,6

Prisão de Jovem

27

21,6

Estupro de crianças

19

15,2

Homicídio

10

8

Assalto

8

6,4

Brigas de Jovens

6

4,8

Outros

7

5,6

Drogas

2

1,6

Tentativa de matar o dono de um bar

1

0,8

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

Já quando perguntados sobre os casos mais graves de violência quanto a vitimização e vulnerabilidade dos jovens rurais no município nos últimos dois anos, os mais citados foram: os conflitos entre famílias e crime na agrovila (esfaqueamento de um jovem), com 11 e 10 respostas respectivamente. É curioso notar que a arbitrariedade policial também foi citado por 6 pessoas, reafirmando a dominação e vulnerabilidade desta comunidade por estas brigas familiares e pela repressão do Estado através da polícia. O caso de Floresta é específico, pois o município possui um histórico de conflito, disputas, violência e litígios entre famílias.

 

Tabela do Grau de Violência - Grau de violência marcado entre 0 e 10

 

Graus

Freqüência

Porcentagem

5

35

28

7

27

21,6

8

22

17,6

6

16

12,8

4

8

6,4

10

7

5,6

3

4

3,2

9

4

3,2

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

De acordo com a tabela acima foi verificado o grau de violência que a população caracteriza o município, atribuindo uma nota de 0 a 10. A partir desta, vemos a clareza da percepção da violência. Podíamos considerar que a situação de violência da região é preocupante, pois 28% marcou grau 5, ou seja, um nível mediano, contudo 21,6% caracterizou com grau 7 e 17,6% com grau 8, o que demonstra uma condição delicada; já que somando os graus 7,8 e 6 dá mais de 50%, ou seja a representação violenta é muito forte. A população, por tanto, considera a situação da violência em Floresta preocupante, abaixo das condições ideais para sua qualidade de vida.

Analisando esta, podemos verificar a representação da violência na vida social da comunidade de Floresta como um ato de brutalidade, maus tratos e abuso físico ou psíquico contra um indivíduo; caracterizando as relações intersubjetivas e sociais pela conseqüência da opressão e intimidação, pelo medo e terror provocados (Chauí; 1999) pela violência, rompendo com as condições básicas de socialização. Que é talvez, provocada pelo rompimento da “ordem”, seja pela ‘vingança’ dos oprimidos ou pela fraqueza e falta de condições dignas provenientes do Estado.

Um dos pontos chaves em relação à violência da região está na ação de um dos braços do Estado, a polícia. A arbitrariedade policial é um fenômeno que contribui para o aumento da violência, segundo 94,4% dos entrevistados. Este fenômeno é legitimado com a “desculpa” do controle social e do controle da criminalidade, esta última questionável, já que a miséria e a pobreza, historicamente, são criminalizadas e brutalizadas para sua neutralização política (Malageti Batesto; 2004;7). Além disso, pensando amplamente, essa tal violência policial é ligada a problemática da estrutura político-social, que inegavelmente favorece setores dominantes interessados na manutenção das condições de desigualdade e descriminalização presentes.

84,8% dos entrevistados afirmaram que se houvesse maior rigor na aplicação das penas ajudaria a diminuir a violência, contra apenas 14,4% que negaram a eficácia de tal aplicação. 68% dos entrevistados acham que a redução da maior idade penal contribuiria para diminuição da violência. Consequentemente averiguamos que a população identifica uma grande problemática acerca dos jovens, pois grande parte das vezes liga diretamente jovem a crimes e violência. Podendo-se concluir que na visão de tal grupo de entrevistados a juventude é, de certa forma, uma problemática, já que se reduzindo a maior idade penal irá penalizar jovens criminosos mais novos etariamente; e que o Poder Jurídico é uma forma de amenizar e/ou solucionar esse fenômeno violento.

 

1.3. Aspecto Atitudinal

A partir deste aspecto podemos observar as disposições atitudinais que os respondentes possuem e se relacionam com a violência. Foi solicitado aos entrevistados que dissessem se concordam ou discordam sobre algumas frases usadas como entendimento por violência.

Quando questionado se violência é a seca no sertão, as opiniões foram equilibradas. 53,6% discordaram inteiramente e em parte, ao passo que 45,6% concordaram inteiramente e em parte. Podemos questionar quais são os fatores da seca, pois além de ser um fator natural, também é sócio-estrutural. Porém ao que indica o índice, como a maioria das pessoas respondeu discordar que a seca é violência, podemos entender que elas a atribuem apenas como uma conseqüência da natureza. Podendo-se dizer que, a outra parcela dos entrevistados a entende estando relacionada à questão (da precariedade) dos recursos hídricos, da situação agrária e das políticas públicas.

Quando perguntados se violência é coisa normal, se acontece para todos sempre, 57,6% discordaram inteiramente e em parte, o que mostra que a população não acha violência como algo normal, mesmo esta sendo recorrente na região. Sendo este o primeiro passo para sua superação. E 40% concordou inteiramente e em parte.

As pessoas atribuem a imprudência ao indivíduo agressor a ação violenta, dando um caráter interpessoal à agressão. Isto é verificado na questão em que é questionado se a violência deve ser controlada pelas pessoas agressivas, tendo 82,4% de respostas concordantes com tal afirmação. A maior parte dos entrevistados discorda inteiramente (76,8%) que uma agressão deve ter como resposta uma agressão maior. Ou seja, para eles não deve haver uma vingança contra o agressor, pois geraria mais violência, sua contenção deve vim por meios pacíficos (92,8%).

Quanto à questão da violência ser solucionada somente pelos poderes públicos através da Polícia e da Justiça, 65,6% dos entrevistados discordou, o que significa que estes vêem outros atores possíveis para solução da problemática da violência.

As questões relacionadas a pobreza e a desigualdade social são encaradas como violentas, tendo como exemplo as respostas afirmativas concordantes de que a fome é um tipo de violência. 38,4% concordam inteiramente, 30,4% concordam em parte, contra apenas 18,4% que discordaram inteiramente. Quanto ao trabalho de crianças na roça, 65,6% concordam ser um dado violento.

 

Violência é a fome?

 

 

Freqüência

Porcentagem

Concordo Inteiramente

48

38,4

Concordo em Parte

38

30,4

Descordo Inteiramente

23

18,4

Descordo em Parte

15

12

Não Respondeu

1

0,8

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

Violência é o trabalho de crianças na roça?

 

 

Freqüência

Porcentagem

Concordo Inteiramente

42

33,6

Concordo em Parte

40

32

Descordo Inteiramente

27

21,6

Descordo em Parte

15

12

Não Sabe

 

1

0,8

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

A maioria dos entrevistados (92,8%) concordou que a violência deve ser controlada por meios pacíficos e em contra partida 65,6% discordaram que tal controle deva ser efetuado apenas pela polícia e pela justiça, apesar de 34,4% concordarem. Ou seja, eles entendem que a violência deve ser combatida não por repreensões e sim com políticas, por exemplo, para tal finalidade, como educação ou até mesmo práticas religiosas.

Quanto à falta de Reforma Agrária representar violência, há certo equilíbrio também. 54,4% concordam inteiramente e em parte ser um processo violento e 43,2% discordam inteiramente e em parte. A falta de Reforma Agrária está associada a dramáticos indicadores sociais, necessitando de uma alteração na distribuição da propriedade da terra. Articulado a programas centrados na educação, renda mínima e acesso a serviços de saúde, uma distribuição fundiária parece ser um dos focos centrais que poderia superar a violência e retirar a região não só de estado de pobreza material e baixas condições de vida, mas igualmente eliminar os mecanismos de dominação política que, de fato, são os maiores responsáveis pela condição social precária e desumana. 41,6% concordaram inteiramente quanto ao fato de violência também ser falta de escola para crianças e jovens; 32,2% concordaram em parte; 21,6% discordou inteiramente e 12,8% discordaram em parte. Dados estes muito próximos aos gerais de todos os municípios em que a falta de escola é sim violência. Pois sem esta uma população tem dificuldades de exercer melhor sua inteligência, memória, vontade, comportamentos, com vista a realizar da melhor forma o desenvolvimento das suas possibilidades e do destino de cada um numa dada vida social, de acordo com a cultura em que está imerso, no caso a cultura sertaneja brasileira. Demonstrando assim pela fala da população, o descuido por parte da esfera pública, ou seja, do Estado. Reproduzindo um quadro de exclusão, desigualdade e injustiça.

Quando questionado acerca das opiniões ao Judiciário, a maioria declarou haver impunidade em julgamentos relacionados a casos de violência em Floresta, representando 74,4%, contra 12,8% não reconhecer. De acordo com as opiniões sobre a concordância de que a pena de morte ajudaria também a reduzir a violência houve certo equilíbrio: 51,2% acham que sim e 45,6% que não. Isso mostra que o grau de eficácia do judiciário de um país tenha relação com seu nível de corrupção. Seja como for é de conhecimento geral que o sistema judiciário brasileiro é lento, funciona melhor para as classes dominantes e/ou ricos em detrimento aos pobres, sendo ainda pouco exposto à apuração pública. Ocorre assim, uma lógica interna do aparato judiciário, em seu desenrolar cotidiano, acabando por se impor apenas aos que nele trabalham (juízes, juristas, advogados, universidades, serventuários da justiça). Assim sedimenta na sociedade uma idéia de que “isso é assim mesmo”. Apesar de tal “consciência”, a população vê como solução a pena de morte, sendo ambos os dados descritos, de certo modo, contraditórios, pois já que o judiciário é impune e corrupto como legitimar a pena de morte?

Para 60,8% a proibição da maconha contribui para a diminuição da violência. E ainda, que esta mesma população vê o veto à maconha como algo incontestável e certo, pois a vê como algo negativo no sentido em que é associada à insegurança, repressão e desvio de conduta por parte de quem as utiliza. Ou seja, a idéia sobre a substância ilícita é acoplada à de violência, contrária ao direito e à justiça, algo desrespeitoso. Isso se deve a construção de atos reprováveis e maléficos à sociabilidade; neste caso uma decisão política exercida pelo poder do Estado e disseminada no imaginário comum social.

Quando perguntados se a intolerância religiosa contribui para que aconteça violência, 57,6% responderam que sim, ao passo que 40,8% responderam negativamente. Lembrando que 87,2% dos entrevistados dizem-se católicos. 64% afirmaram que a ausência de práticas religiosas faz as pessoas serem violentas, contra 34,4% que respondeu negativamente. É importante salientar que hoje a pertença institucional religiosa como a partidária já não é um indicativo de qualidade pessoal do indivíduo (Gebara: 2005;29).

Quanto ao linchamento aumentar ou diminuir a violência, 91,2% responderam aumentar e apenas 8,8% diminuir, fazendo com que o coletivo influencie diretamente para o processo violento.

Portanto, a percepção da violência é muito nítida em Floresta e que essa interfere diretamente no cotidiano dessas pessoas entrevistadas. Foram expostas opiniões de cunho de reconhecimento, de julgamento e de posicionamento dos indivíduos frente às situações de violência. Pode- se verificar o descaso do poder público diante de tais situações seja na intervenção policial arbitrária, na falta de escolas ou na alta taxa de homicídio. Para embasar tal constatação, de acordo com a Controladoria Geral da União foram indicadas falhas de natureza formal por parte da gestão municipal, como falta de merenda escolar em várias escolas da região rural, interrupção e prejuízo em obras de construção de um estádio, insuficiência de medicamentos para o atendimento da demanda em Unidades de Saúde do município e, ainda, precárias instalações de Postos de Saúde.

Os recursos foram enviados pelos respectivos Ministérios, mas a Prefeitura não repassava esses, notas fiscais não possuíam identificação da licitação, uso de empresas do vice-prefeito, entre outros. Ou seja, é visível uma grande impunidade e descaso, já citado, pelos respondentes.

Todos esses fatores geram um sentimento de insegurança, indignação e muitas vezes de impotência.

A percepção da violência pelos entrevistados em Floresta é bem equiparada com os casos e incidência desta. Há uma compreensão da realidade inquietante e impressionante da violência, podendo-se avaliar a não naturalidade em que ela é vista. Em geral essa situação violenta preocupa a comunidade e principalmente os jovens rurais pela sua vulnerabilidade e por se tornarem vítimas de racismo, roubos e homicídios em alta escala.

 

2. Superação da Violência

Nesta segunda fase teve-se como objetivo a percepção de superação da violência, investigando os interesses, ações e compromissos entre comunidades e poder público, capazes de criar contribuições para tal superação a partir de 17 questões. Foram verificadas quais ações e quais mecanismos sociais que viabilizariam a superação e se os próprios entrevistados contribuíram para esta. Quando perguntado sobre tal possibilidade na região do SMSF, a maioria respondeu afirmativamente. O tempo agora de superação da violência se faz necessário empregar caminhos sedutores que apostem na complementação da lacuna de poder, coragem e respeito, que hoje é buscada nas drogas, na ameaça verbal e na agressão física.

 

2.1. Aspecto Cognitivo

96% dos respondentes consideram a possibilidade de diminuição da violência na região do Submédio São Francisco, o que é um dado muito significativo e esperançoso para a região e para KOINONIA/Pólo, pois certamente cada iniciativa soma um ponto a mais, um acerto a mais, uma vida a mais que se conquista na luta de muitas perdas e conflitos. Através de tais ações, almeja-se preservar a esperança numa situação mais humana, a vontade de sua construção e a afirmação dos direitos, à vista disso, a esperança e a força de vontade são tochas que iluminam o caminho para as novas gerações de trabalhadores rurais e jovens em geral da região.

A maior parte dos entrevistados de Floresta reconhece haver acontecido algum tipo de ação de superação da violência (44%), porém, em contrapartida, o número dos que não reconhecem é 29,6%, ou não sabe de 22,4%. Podemos notar, assim, a necessidade de difundi-las em maior escala e assim feito, permitir maior sociabilidade e ultrapassando a dimensão da violência.

Para as 55 pessoas (44%) que reconheceram a existência de ações para superação da violência foi solicitado que citassem 3 exemplos, como se pode observar na tabela abaixo:

 

 

Freqüência

Porcentagem

Atividades e campanha pela Paz

17

30,9

Brigas de jovens 

11

20

Reforço policial

9

16,4

Outros

9

16,4

Atividades com jovens

5

9

Educação

2

3,7

Conselho tutelar

2

3,7

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

As ações mais citadas espontaneamente foram: atividades e campanhas pela paz (30,9%); brigas de jovens (20%), reforço policial (16,4%), outros (16,4%) e atividades com jovens (9%). A maior parte da comunidade entrevistada vê como mecanismo de superação, atividades pacíficas. Comparando estas ações com as ações lembradas na pesquisa geral de todos os municípios, as ações educativas (53,04%) e ação ostensiva da Polícia Federal (22,67%) foram as atividades mais citadas e ainda campanhas pela paz. As igrejas tiveram um papel de destaque, promovendo-as. Porém não pude analisar como brigas de jovens poderiam alavancar a superação da violência.  Este é um dado curioso, que aparece lembrado com maior freqüência em comparação à educação, por exemplo. Tenho que este dado possa ter sido mal interpretado pelos entrevistados ou pelos entrevistadores, por ser algo contraditório.

 

2.2 Aspectos Valorativos

É interessante notar que a educação, a redução do desemprego e geração de renda, ou seja, constituintes dos direitos humanos, à dignidade humana e deveres do poder público, foram as ações sociais mais citadas pelos entrevistados, consideradas como mais favoráveis e que devem ser valorizadas para o desenvolvimento da superação da violência e ainda a promoção de ações educativas e de lazer com os jovens, chamando atenção novamente para o protagonismo juvenil.

 

 

 

Freqüência

Porcentagem

Educação 

75

60

Redução do desemprego e geração de renda

64

51,2

Ações educativas e de lazer com os jovens

54

43,2

Campanha de desarmamento

45

36

Educação em direitos humanos

32

25,6

Ações de solidariedade com vítimas de violência

29

23,2

Não sabe

7

5,6

Outros 

5

4

Não respondeu

2

1,6

Diminuir o alcoolismo

1

0,8

Conselho tutelar

1

0,8

Ações de lazer

1

0,8

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

Apesar da constatação de que a arbitrariedade policial é muito alta e repressora, 97,6% acham válido haver policiais treinados e preparados para agir, que respeitem os direitos humanos com o fim na superação da violência; além da valorização de sentimentos religiosos serem possíveis estimulantes à mobilização em favor de tal fim para superação. Estes são dados importantes para a realidade social desta região do SMSF, pois a arbitrariedade e repressão são fenômenos constantes e discriminatórios em que a população está à mercê; além do papel importantíssimo (e histórico) da Igreja e lideranças religiosas nesse contexto desigual e violento através de sermões, missas e até lutas para a tal superação, menor supressão dos direitos e pela paz da comunidade.

 

2.3 Aspectos Atitudinais

Percebe-se, através deste aspecto, que os entrevistados julgam e valorizam sentimentos, ações, mobilizações, atos, passeatas, ou seja, organizações contribuintes para a difusão dos direitos humanos e superação da violência.

Foram citadas algumas ações consideradas contribuintes para superação da violência e em seguida pedido para que os entrevistados se posicionassem a respeito, dizendo se concordam inteiramente ou em parte, ou se discordam inteiramente ou em parte. A opinião dos entrevistados foi de unanimidade quanto às ações socioeducativas e campanhas pacíficas, serem oportunas à superação da violência.

A maioria concorda inteiramente que todas as ações citadas são válidas para tal superação. Quanto à campanha pelo desarmamento, 70,4% concorda inteiramente e 20,8% em parte, contra 8,8% que discorda; já em relação a campanhas educativas sobre direitos humanos, 96% se mostra favorável a tal ação. Estas campanhas se tornam importantes e estratégicas para que a promoção de condições sociais dignas sejam efetivadas na vida cotidiana da comunidade. E a partir das opiniões podemos identificar que a comunidade julga que tais atividades dão resultados positivos. Em outras palavras, com as ações educativas e as mensagens delas derivadas, o campo de significação definido pela tipologia pode ser verificada como definindo também o sentido e as linhas de força das próprias ações e mensagens educativas.

Ações com a juventude foram bem aceitas como mecanismos de superação da violência, pois 84% dos respondentes concordam inteiramente e 15,2% em parte que ações de lazer desenvolvidas com a juventude são eficazes, ou seja, 99,2%. Já as ações educativas com os jovens, 98,4% viram com bons olhos tal estratégia. 89,6% concordam inteiramente que denúncias públicas de violação de direitos favoreceriam para tal superação, 8,8% concorda em parte e apenas 1,6% discordam. Contudo, tais estratégias devem ser mais graduais e que respeitassem os hábitos e valores culturais vigentes nas comunidades.

Para o grupo de Floresta, através de respostas espontâneas, tais ações devem ser promovidas pelo governo e/ou pelos políticos, mas principalmente por todas as pessoas em geral, envolvidas com a realidade da região, tendo a coletividade um papel de destaque. Além das declarações de que tais procedimentos para superação devem partir, curiosamente, também do agressor que cometeu a violência e da polícia. Através da visão dos entrevistados podemos notar que estes consideram que a comunidade em geral e o poder público devem agir juntamente no sentido de dar resposta à violência.

Vejamos a tabela abaixo:

 

 

Freqüência

Porcentagem

Todas as pessoas em geral 

85

68

Governo 

54

43,2

O agressor que cometeu a violência

35

28

Polícia

33

26,4

Políticos

30

24

Própria pessoa que sofre a violência

19

15,2

Outros

8

6,4

Não respondeu

3

2,4

Não sabe

1

0,8

Inválidos

1

0,8

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

Quando perguntado se os entrevistados eram favoráveis ou contrários à mobilização pacífica como promotora da superação da violência, houve um equilíbrio nas respostas; 46,4% discordam inteiramente e em parte da eficácia de tal ação, já o mesmo número, 46,4%, concorda inteiramente e em parte. Este é um dado conflitante na análise, pois anteriormente o grupo entrevistado manteve uma postura de que a violência deveria ser tratada por meios pacíficos na primeira etapa do questionário (92,8%). Para metade desta população de entrevistados este é um mecanismo pacífico válido de ação, juntamente com atos públicos no mesmo sentido pacífico, com ações coletivas como a negociação de conflitos, que obteve 84,8% das respostas afirmativas de caráter contributivo. Apenas 11,2% acham que nada adiantaria. 91,2% opinaram positivamente para contribuição da educação para a paz como método de superação da violência.

Foram considerados válidos também as mobilizações e atos públicos pacíficos como, passeatas, ocupações e paralisações, mecanismos legítimos de luta social; tendo 50,4% a favor, 27,2% achando que nada adiantaria e com 20,8% achando que estimulariam a violência.

Essas ações sociais citadas acima possuem um caráter socioeducativo, sendo conduzidas pelos movimentos sociais, pelo poder público e comunidades religiosas. Elas têm um cunho de recompor a comunicabilidade, os espaços públicos e as condições de sociabilidade. Apesar destas, indica-se a necessidade de desenvolver ações concretas em políticas públicas como forma de satisfazer direitos e aprimorar canais e espaços de participação direta e de controle social.

Há necessidades particulares e enquanto a coletividade que consagram, tem me permitido observar a interface do fenômeno da violência com pequenos atos e mensagens do cotidiano, juntamente com as ações desenvolvidas com KOINONIA/Pólo.

Não esquecemos que a violência possui uma fecundidade própria; ela se engendra a si mesma. É preciso, entretanto sempre analisá-la em rede, em entrelaçamento. Suas formas de aparências mais desumanas e às vezes mais condenais, freqüentemente ocultam outras situações de violência menos escandalosas, por encontrarem-se  prolongadas no tempo e protegidas pelas ideologias ou pelas instituições de aparência respeitosa. (Domenach, apud Costa e Gomes, 1999, p. 159).

 

3. Percepção de Efeito das Ações

Nesta terceira fase contamos com 28 perguntas que procuraram avaliar as ações desenvolvidas por KOINOIA/Pólo Sindical que visam a superação da violência. Foram levadas em consideração as opiniões dos entrevistados e seu grau de participação e ainda seu reconhecimento diante destas ações. Isso viabiliza perceber os efeitos das ações lúdico-pedagógicas e socioeducativas.

 

3.1 Aspectos Cognitivos

Antes se fez necessário compreender se os entrevistados conheciam as atividades que KOINONIA/Pólo realizam com a juventude rural sertaneja nos municípios da região do SMSF, ou pelo menos já terem ouvido falar. 72% dos respondentes não conhecem as ações desenvolvidas, contra 28% que as conhecem ou já ouviram falar.

Para melhor ilustrar o reconhecimento destas ações e atividades desenvolvidas por KOINONIA/Pólo, foi pedido para citá-las espontaneamente, as reconhecendo ou apenas ouvido falar. Estas mais lembradas foram de caráter lúdico-pedagógicas. Das 28 pessoas que conhecem, 12 citaram a 1ª Gincana Cultural Identidade Jovem Rural; o mesmo número de pessoas mencionou o 2° Festival Cultural Fome Zero. Sete pessoas não sabiam responder e o mesmo número citou a 1ª Olimpíada Juventude Rural SMSF como ações que mais as marcaram. Tais atividades mais lembradas foram de cunho lúdico, com elementos agregadores e de sociabilidade, que valorizam a identidade rural sertaneja, a terra e a atividade laboral (trabalho na terra).

Observamos tais citações na tabela abaixo:

 

 

Freqüência

Porcentagem

1ª Gincana Cultural Identidade Jovem Rural

12

9,6

2º Festival Cultural Fome Zero

12

9,6

Não sabe

7

5,6

1ª Olimpíada Juventude Rural SMF

7

5,6

Outros

14

11,2

Inválidos

2

1,6

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

Na questão estimulada, foram citadas algumas outras ações para que os entrevistados dissessem quais já tinham ouvido falar. As mais citadas foram: 2º Festival Cultural Fome Zero, com 36% das respostas; 1º Festival Cultural Velho Chico, com 22,4% das citações; 21,6% lembraram do Acompanhamento Coletivo Jovem Pólo; 20% do Seminário Educação no Campo; 1ª Gincana Cultural Identidade Jovem Rural com 18,4% das lembranças; e Seminário Político Sindical Rural de Juventude, com 18,4%. 21,6% simplesmente não responderam e 14,4% não souberam responder.

Verificaram-se quantas pessoas haviam participado de algumas das atividades que KOINONIA/Pólo realizaram com os jovens rurais visando a superação da violência e maior reflexão diante da realidade social; observou-se, equilibradamente, que 36% participaram e 35,2% não participaram, 8% não sabia responder e o restante  não respondeu  (5,6%) ou foram questionários inválidos (15,2%).

Para quem respondeu afirmativamente ter participado de alguma atividade foi solicitado para salientarem de quais atividades eles participaram; 14 pessoas (31,2%) disseram ter participado de todas, o que mostra bons números; 10 pessoas (22,2%) participaram da atividade Diga Não às Drogas; 7 (15,5%) participaram de Palestras sobre Drogas; e 6 (13,3%) do Festival Fome Zero; e apenas 2 (4,4%) do Resgate da História de Itaparica. Este é um proveitoso resultado, já que a maior parte dos participantes estiveram presentes e ativos em todas as atividades.

Como público participante, dentre as atividades que mais gostaram, 22,4% ou 28 pessoas foram ativas. A segunda forma de participação mais citada foi como participante de uma equipe de apresentação cultural, com 18 pessoas, ou seja, 14,4%; 8% ou 10 pessoas como participantes de uma equipe desportiva. Notemos que o número de público participante foi considerável.

 

3.2 Aspectos Valorativos

Acerca das ações desenvolvidas por KOINONIA/Pólo com os jovens rurais citadas anteriormente, apenas 56,8% afirmaram que estas contribuem para a superação da violência; 28% das respostas foram inválidas – um dado ruim para análise - e 9,6% (12 pessoas) não souberam responder. Esta opinião quanto a tal contribuição é relativamente boa, pois pouco mais da metade as reconhece. Porém é um pouco sem efeito se pensado na esmagadora maioria de 124 pessoas que acham que ações de organizações populares poderiam contribuir para superação.

Para os entrevistados crentes da contribuição das ações desenvolvidas por KOINONIA/Pólo foi pedido para citarem três ações que julgam terem mais possibilidade de contribuição para superação da violência. A mais mencionada foi o 2º Festival Cultural Fome Zero como a mais citada (33,6%); a segunda mais citada foi a 2ª Gincana Cultural Luta pela Paz (14,4%); em seguida a 1ª Gincana Cultural Identidade Jovem Rural (13,6%), e o Acompanhamento Coletivo Jovem Pólo (12%).

 

 

Freqüência

Porcentagem

2º Festival Cultural Fome Zero

42

33,6

2ª Gincana Cultural Luta pela Paz

18

14,4

1ª Gincana Cultural Identidade Jovem Rural

17

13,6

Acompanhamento Coletivo Jovem Pólo

15

12

Seminário Educação no Campo

15

12

1ª Olimpíada Juventude Rural SMF

13

10,4

Seminário Político Sindical Rural da Juventude

8

6,4

1º Festival Cultural Velho Chico

6

4,8

Outros

19

15,2

Não sabe

2

1,6

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

Essas ações/atividades tiveram grande efeito entre o grupo entrevistado, pois tiveram significativo contingente de participantes e significativa compreensão do sentido destas  e de como elas interferem, de qualquer forma, nos indivíduos participantes e nos demais da comunidade.

Já seus maiores motivos de afeição foram: a diversão (18,4%; 23 pessoas), construção de novas amizades (15,2%; 19 pessoas), o conhecimento maior sobre a juventude do SMSF (15,2%; 19 pessoas) e o aprendizado sobre os direitos dos jovens (12%; 15 pessoas). É interessante notar que tal julgamento positivo ajudou a difundir e conscientizar sobre a realidade da juventude local e sobre seus direitos; possibilitando, de certa forma, uma maior mobilização social. Além dessas ações se tornarem grande facilitador de interações sociais, de maior conhecimento das pessoas envolvidas e, conseqüentemente, maior conhecimento de si e da realidade rural sertaneja.

Quis-se saber se os entrevistados já tiveram algum comportamento violento. Podemos observar que as respostas foram equilibradas:

 

 

Freqüência

Porcentagem

Sim

63

50,4

Não

59

47,2

Não sabe

3

2,4

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

Avaliando as potencialidades de superação da violência foram indicados através de uma lista, alguns sentimentos morais despertados nos jovens rurais através das ações. Três sentimentos foram mais mencionados: amor ao próximo (92 pessoas), a auto-estima equilibrada (86 pessoas) e a solidariedade (85 pessoas) e tolerância religiosa (76 pessoas). Através do estímulo destes sentimentos recompõem-se as bases de sociabilidade, impelindo à um respeito às diferenças e ao sentido da vida coletiva. Além disto, 74,4% consideram que essas contribuem para o fortalecimento das organizações juvenis em Floresta, um dos grandes objetivos do Pólo e de KOINONIA.

 

3.3 Aspectos Atitudinais

Positivo foi o julgamento dos entrevistados quanto à cooperação para a diminuição da violência nos municípios do SMSF através da ação de organizações populares, havendo 99,2% de aprovação. Estas ações, de certa forma, correspondem à circunstância histórica e principalmente à realidade social; e às possibilidades de intervenções transformadoras que nela se abrem.

Quando citado as atividades que o entrevistado participou foram questionados quais destas gostaram mais e o porquê de terem mais agradado. Dentre as mais mencionadas: 11 pessoas disseram ter gostado de todas, 10 pessoas tiveram afeição pela atividade Diga Não às Drogas e 8 entrevistados disseram ter gostado do Festival Fome Zero.

Quando perguntado, numa questão semi-aberta, através de que forma uma ação com os jovens contribuiria para superação da violência, 42,4% disseram ser a partir de ações divertidas, sem agressões; 42,4% mencionaram capacitar para a reflexão crítica; 41,6% disseram fortalecer a auto-estima dos jovens; 40,8% citaram favorecer a criação de organizações juvenis; e 38,4% afirmaram facilitar a reflexão sobre as razões e efeitos da violência. Podemos concluir que não só a diversão é estimulada e valorizada, mas também a conscientização político-social dos efeitos socioeducativos das ações, tendo intenções para uma prática de emancipação popular.

As agressões verbais e físicas lideraram no número de respostas, quando perguntado quais atitudes ou comportamentos violentos já tiveram alguma vez, assim como na pesquisa geral de todos os municípios.

A partir de uma lista de atitudes e comportamentos violentos, pediu-se para que os entrevistados proferissem se costumavam tê-los. A agressão verbal liderou com 61% das respostas, depois a maior freqüência foi a intolerância com pessoas alcoolizadas (44%). Podemos notar que ao longo da análise o alcoolismo foi um fenômeno perturbador, bastante citado pelos entrevistados. 36% citaram a agressão física, 16,8% o machismo como comportamento violento e 12% a intolerância religiosa. Estes números são justificados e reforçados, como já vimos na pesquisa anteriormente, pelo alto índice de alcoolismo e embriagueis, além de violência contra homossexuais e estupros.

Para quem respondeu anteriormente ter participado de alguma atividade de KOINONIA/Pólo (45 pessoas), 32,8% observou a diminuição de comportamentos pessoais agressivos e apenas 3,2% responderam não ter amenizado.

40 pessoas (32%) afirmaram que a capacidade de diálogo é viabilizada a partir das atividades juvenis, com possível assimilação pelos jovens. Estas ações estimulam o não comportamento agressivo, segundo 29 pessoas (23,2%). 27 entrevistados (21,6%) julgam que o respeito pelas pessoas de diferentes etnias também é estimulado e assimilado; juntamente com a tolerância religiosa, citada por 19 pessoas. Isto é resultante da interação entre o desenvolvimento individual, atividades socioeducativas e os contextos sociais, aflorando a amizade e a cooperação entre os participantes.

68% dos respondentes afirmaram que as ações de KOINONIA/Pólo com a juventude fortalecem a participação dos jovens nas atividades educacionais do sistema escolar. Apesar de 32,8% opinar que tais ações não provocam na sua região ou município políticas públicas sociais favoráveis às ações de superação da violência, 29,6% acham o contrário, que estimulam sim.

Quando perguntado, em uma questão aberta, se as ações dos jovens apoiados por KOINONIA/Pólo provocam política públicas sociais na sua região ou município, quis-se saber quais eram estas políticas. A maioria dos entrevistados não soube ou simplesmente não respondeu, como podemos notar na tabela abaixo. Apenas 4 pessoas citaram a Educação como promoção das políticas públicas; contando com 1 pessoas cada, apenas, respondendo as obras públicas e apoio/incentivo ao esporte. Tal resultado foi sem préstimo, na medida em que grande parte dos entrevistados não reconheceu nenhuma política pública social provocada pelas ações juvenis.

 

 

Freqüência

Porcentagem

Não sabe 

7

5,6

Não respondeu

5

4

Educação

4

3,2

Obras públicas

1

0,8

Apoio e incentivo ao esporte

1

0,8

Inválido 

1

0,8

Fonte: Pesquisa KOINONIA/Pólo sobre ações juvenis para a superação da violência na região do SMSF, 2005.

 

77,6%disseram que as ações de KOINONIA/Pólo com a juventude favorecem a educação para a paz e 79,2% realçam o mérito para que os jovens lutem mais pelos seus direitos.

Entretanto, 75,2% consideram que as ações de KOINONIA/Pólo favorecem a participação da juventude no movimento sindical rural, podendo-se entender como uma continuidade ou novas estratégias de lutas. 71,2% concordam que essas permitem uma maior compreensão da situação dos direitos dos jovens trabalhadores rurais envolvidos com o plantio da maconha.

Ainda questionando a eficácia das ações de KOINONIA/Pólo, 66,4% afirmou que estas permitem que os jovens não se envolvam com o plantio de maconha, enquanto 11,2% responderam negativamente; 71,2% disseram que tais ações podem viabilizar maior participação desses nas ações sociais desenvolvidas pelas comunidades religiosas, contra apenas 5,6%, que não concorda.

As pessoas entrevistadas têm informações sobre o que significa superação da violência, através das ações de KOINONIA/Pólo com caráter socioeducativos. Estas influenciam diretamente na representação social que a violência possui e ainda, intervindo na construção de políticas públicas, melhorando a vida rural sertaneja. Valorizam as ações socioeducativas e de lazer a fim de promover o exercício dos direitos humanos, havendo uma aprovação e um engajamento por parte da população entrevistada.

 

Conclusão

Podemos identificar através da pesquisa uma percepção e compreensão da população entrevistada acerca da realidade inquietante e perturbadora da violência de sua região. Esta é reconhecida como um fenômeno social, interpessoal e político. Porém a maioria acredita na possibilidade de sua superação.

Em Floresta, esse trabalho desenvolvido através das ações lúdicos-pedagógicas e socioeducativas vêm do esforço pela paz, pelo maior conhecimento e julgamento da realidade rural sertaneja e reconhecimento dos seus Direitos. Ainda por um maior desenvolvimento da conscientização política de uma região que reúne todos os ingredientes para ser um dos espaços mais violentos do Brasil, isto é, pobreza, plantio de maconha, canais da transposição do rio São Francisco e a promessa da instalação de uma Usina Nuclear. Está claro que, sem opções, parte da juventude, e também dos adultos vai para o narconegócio.

Por isso o esforço de tentar construir a paz e maior escolarização na região. Sinal que o povo não está alheio, mesmo que cansado da violência estrutural brasileira que não nos tem permitido grandes sonhos. E junto com isso, KOINONIA e Pólo Sindical vêm trazendo esta alternativa de luta.

A partir de uma visão sobre a política de combate às drogas nos limites do capitalismo, pode-se analisar as condições objetivas e subjetivas que favoreceram a consolidação do cultivo da maconha na região do Submédio São Francisco em escala comercial e que fizeram com que os trabalhadores rurais da região constituíssem um contingente de excluídos, facilmente cooptados pelo “narconegócio”, mesmo sendo este um assunto temido e escuso pelos entrevistados, como podemos observar na pesquisa.

Assim, esta pesquisa problematiza a repressão do trabalhador rural no cultivo da cannabis sativa, a falta de políticas púbicas que visem melhores condições de vida da comunidade, a identidade rural sertaneja, o sindicalismo rural e o protagonismo juvenil, inclusive nos processos violentos. E ainda trata de uma estimativa das práticas do Departamento de Jovens do Pólo e das práticas de KOINONIA.

Na região onde se desenvolve o cultivo, registra-se a trajetória dos trabalhadores rurais, atingidos pela barragem de Itaparica e organizados em torno do Pólo Sindical, na luta pela garantia de acesso aos meios de produção. O Estado brasileiro, ao identificar que a região é um pólo produtor de substância qualificada como ilícita, atua juntamente com políticas para a região: a repressão através de operações de erradicação e o superficial desenvolvimento social por meio da “Reforma Agrária”.

Podemos verificar o foco e os direcionamentos da pesquisa que foram os jovens rurais sertanejos nordestinos, podendo-se perceber um diálogo com estes que matem ou tentam manter, sua identidade com esta região de origem rural. Esta identidade é constituída pelo valor da terra e pela relação de trabalho, inserida na particularidade das características climáticas, da vivência rural e do trabalho com a terra.

Podemos concluir que a juventude rural é um ator político fundamental da sociedade analisada e é agente fundamental para a construção, crítica e fortalecimento das políticas públicas. Viu-se a necessidade de políticas públicas específicas, que atendam à diversidade existente, que promovam cultura, educação, lazer, segurança, saúde e geração de renda, com esmero da qualidade de vida e visando uma inclusão social.

Foi visto, ainda, que o eixo mobilizador dos camponeses desde o início foi de reivindicação de reassentamento em áreas irrigadas. E a partir disso todas as ações foram desencadeadas para forçar o governo a aceitar essas propostas. E recentemente a luta principal torna-se a conclusão dos projetos de irrigação e a oferta de estrutura para o seu funcionamento.

Para tanto, notamos que se faz necessário criar políticas específicas especialmente para os jovens no meio rural (oportunidades de emprego, lazer, formação, educação com currículo adequado à realidade rural) e garantir espaços de participação, promovendo então a construção das bases culturais de um novo tipo de desenvolvimento. Assim podemos analisar as ações de KOINONIA e Pólo Sindical SMSF para esta direção.

 

BIBLIOGRAFIA

 

Iulianelli, Jorge Atílio; Águas Juvenis no Velho Chico - Estudo de Caso com a juventude camponesa – sua metodologia, seu aprendizado, seus efeitos e seus impactos: 2007

FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Geografia do Brasil. Região Nordeste. Rio de Janeiro: SERGRAF, 1977.

FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Mapas Base dos municípios do Estado de Pernambuco. Escalas variadas. Inédito.

Revista Tempo & Presença: Paz com desigualdade?

                                           Ética: exercício e liberdade

Boletim Trabalhadores Rurais e Direitos – Ano I – Set/Out 2006 - Mai/Jun 2007

Revista Interdisciplinar de Sociologia e Direito – Nº4, outubro de 2005 – “A Despenalização do Trabalhador Rural no Cultivo da Cannabis Sativa” – Érika Macedo