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Vivemos um momento tormentoso quando a preocupação em torno de conflitos
que envolvem elementos culturais é mais aguda. As generalizações
não são boas companheiras. Terror não equivale a Islamismo e envolvimento
com o narcotráfico não é o mesmo que ser agente do crime. No Submédio
São Francisco se assiste, como em outras partes do País, à face
violenta do agronarconegócio. O envolvimento nas pontas dessa atividade
(produção e consumo) se constitui de momentos dolorosos e opressivos.
Na produção se está submetido à exploração capitalista do agronegócio,
e no consumo à compulsão capitalista. Os mais diretamente atingidos
nesse processo são os jovens. Os mais ilesos são os narcocapilalistas.
Na região do Submédio São Francisco o narcoplantio é mais um ingrediente
a desestimular a permanência de jovens com vistas a apoiar um projeto
de desenvolvimento sustentável regional. As ações governamentais,
por motivos variados, também levam a isso, haja vista em especial
a contra-reforma agrária em Itaparica, maior investimento governamental
no interior do Nordeste, a indenizar camponeses que tinham conquistado
reassentamento irrigado, tirando-os das próprias terras.
O conjunto de artigos que circulam no boletim espera contribuir
para o debate público em torno dos efeitos perversos do narcoagronegócio,
e procura insistir na necessidade de políticas públicas, relativas
à questão, que ultrapassem a exclusividade do tratamento repressivo,
avancem para uma verdadeira Reforma Agrária e políticas afirmativas
para a juventude. Uma análise das relações da juventude sertaneja
com o narconegócio e duas entrevistas constituem um rico painel
da violência que sofrem e da resistência que oferecem os jovens
daquela área. Assim contamos contribuir para o debate nacional que
afete a vida das pessoas envolvidas, em diferentes situações, com
a narcoprodução e o narconegócio no País.
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