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O ciclo produtivo nas mãos erradas
Por: Philip Leake
Data: 12/06/2006


A economia das drogas tem-se mostrado inabalável. Com anos de políticas de Guerras às Drogas e a dois anos do fim do prazo de erradicação de todas as plantas atualmente qualificadas como ilícitas pela ONU (1998- 2008), a única coisa que foi abalada pelas políticas repressivas foi à estrutura social dos países em desenvolvimento.

As políticas repressivas e belicistas só poderiam causar desordem, armamento do narcotráfico e grande violência. Contrariamente do que afirmam essas políticas, não são as drogas que geram esses efeitos. Essas políticas impedem o desenvolvimento de um país, retardando sua inserção no sistema capitalista mundial ao deixar de optar por políticas públicas que irão beneficiá-lo. Um grande jogo, com conseqüências não só no âmbito político, mas também no econômico e social.

Em 1998, na Sessão Especial da Assembléia Geral da ONU (UNGASS) sobre drogas, o mundo se comprometeu a eliminar ou reduzir consideravelmente o cultivo ilícito de arbustos de coca, a planta de cannabis e a papoula até 2008. As regiões do plano de erradicação da ONU são: Afeganistão, Myaman e Laos na Ásia pelas plantações de papoula; Bolívia, Colômbia e Peru, na América Latina, pelas plantações de coca; e EUA, México e Canadá, na América do Norte, pelas plantações de cannabis.

O ciclo produtivo dessas plantas atualmente qualificadas como ilícitas fazem parte de culturas prévias (produção agrícola), diferenciando-as das drogas químicas (LSD, Ecstasy, etc.). Nos dois extremos desse ciclo estão as partes mais fracas dessa estrutura, os agricultores e os varejistas. Segundo Pierre Kopp em seu livro “A Economia da Drogas”, a produção agrícola da folha de coca representa 0,5% do preço final da cocaína; mesmo com a triplicação do preço do quilo da folha de coca por algum tipo de risco gerado pela repressão, acarretaria apenas um aumento de 2% nos preços a varejo. Entretanto isso não significa o aumento dos salários dos agricultores, pelo contrário, aumenta-se o risco destes no cultivo. O mesmo acontece com os pequenos traficantes quando a repressão aumenta o seu risco e não seu lucro. Os grandes ganhadores do comércio internacional das drogas são os exportadores, os importadores e os atacadistas, pois todos esses têm condições financeiras de subornar agentes públicos ou privados. Sem corrupção não haveria tráfico de drogas, ou pelo menos não estaria na cadeia apenas quem não tem condições de arcar com sua liberdade.

Nos campos onde são produzidas as drogas nunca estão presentes os "donos" da produção e sim os agricultores, não somente no Brasil, são jovens, famílias inteiras e em alguns casos trabalhadores escravos, pessoas são seqüestradas durante o período da safra. Os agricultores neste tipo de cultivo podem receber salários maiores do que em cultivos lícitos, mas continuam sendo salários medíocres comparados ao capital que este mercado ilegal gera e os riscos oferecidos a essas pessoas.

As plantações de cannabis na América do Norte não chamam tanta a atenção quanto as outras, já que nove estados estadunidenses permitem o uso medicinal da erva. No Canadá, depois que foi permitido o uso medicinal por lei, a cannabis (que a partir de então é produzida pelo governo) superou os outros setores mais tradicionais da economia canadense tornado-se o produto agrícola mais valioso.

Segundo a revista de negócios estadunidense Forbes, a produção de cannabis com fins terapêuticos pelo Canadá foi uma ótima alternativa para o primeiro setor canadense que sofre com o protecionismo dado pelos EUA aos seus produtos agrícolas tradicionais. Além de gerar US$7 bilhões por ano, há uma demanda derivada por insumos necessários para o cultivo da planta. No Brasil, além de ter que sustentar as políticas protecionistas, lidamos com a política proibicionista que juntas geram a falta de produtividade no primeiro setor da economia, inserção da mão-de-obra nos cultivos atualmente qualificados como ilícitos e violência criada pela repressão destes cultivos, aumentando os danos sociais e o desemprego nos países em desenvolvimento.

A questão das drogas está intrinsecamente ligada a questão social. Torna-se obrigatório uma adaptação política a questão das drogas, pois países em desenvolvimento não têm condições financeiras de arcar com as conseqüências de uma política errônea, baseada na repressão belicista das camadas mais pobres da sociedade. Essas conseqüências são: a criminalidade, mortandade e o subdesenvolvimento.

O plano de erradicação de todas as plantas ilícitas pela ONU. Não é algo voltado para a América Latina e sim contra toda sua estrutura política, social e econômica. Junto com os EUA, a ONU supõe que o fim da produção irá solucionar os problemas do narcotráfico. Sendo que a produção dessas plantas existe antes de sua ilicitude, ou seja, a demanda está ligada diretamente aos excedentes produzidos. Na verdade a ilegalidade deste mercado impossibilita o controle de todo seu ciclo produtivo. Sempre haverá alguém para consumir, conseqüentemente alguém para produzir tornando impossível destruir este narcoagronegócio sem um agronegócio.

Referência Bibliográfica

Cannabits. Acesso em: http://www.forbes.com/free_forbes/2003/1110/146tab.html

Inside Dope. Acesso em: http://www.forbes.com/forbes/2003/1110/146_print.html

KOPP, Pierre. A economia da droga. Santa Catarina: EDUSC, 1997.

RIBEIRO, Ana Mota (Org.); IULIANELLI, Jorge Atílio Silva (Org.). Narcotráfico e violência no campo. DP&A Editora: Rio de Janeiro, 2000.

United Nations Office on Drugs and Crime – 2004 World Drug Repor