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Reunião de terreiros

01/12/2014

Segundo o Mapa da Violência de 2012, nosso país ocupa o quinto lugar no ranking de assassinatos de mulheres. Entre os estados, a Bahia está na sexta posição e a cidade de Salvador ocupa o quinto lugar entre as capitais. As desigualdades de gênero, portanto, se expressam da forma mais radical na violência, sobretudo, naquela que culmina com a morte dessas mulheres.

Templos religiosos, e entre eles os terreiros, têm sido espaços de acolhimento de mulheres que sofrem violência e, muitas vezes sem saber a quem recorrer, procuram os espaços sagrados. Tanto os dados que têm suscitado debates sobre como enfrentar a violência sexista quanto a experiência de atendimento - mesmo que informal - à vítimas, fez com que surgisse entre os terreiros a necessidade discutir o tema da violência contra a mulher. 

Este então foi o principal tema da última das quatro reuniões de terreiros de 2014, realizada por KOINONIA, em Salvador (BA). O encontro, que contou com a participação de 35 casas de diferentes nações, somando 120 pessoas no total, teve o objetivo definir com os religiosos e religiosas de matriz africana as pautas prioritárias de 2015, além de marcar o encerramento do ano em que a instituição completa 20 anos de existência – boa parte deles ao lado dos povos e comunidades tradicionais.

“Como KOINONIA historicamente promove o diálogo contra a intolerância religiosa, abordando temas que articulam consensos entre casas de Candomblé de diferentes nações, dessa vez buscamos, com a mesma metodologia, prestar serviço à causa das mulheres vítimas de violência. Estimulamos a reflexão e o posicionamento de parte dos candomblés em relação ao que pensam sobre os direitos das mulheres. Com certeza isso vai fazendo com que ações de religiosos por essa causa ganhem vida - confrontando versões fundamentalistas que justificam a submissão feminina”, destaca o diretor executivo de KOINONIA, Rafael Soares de Oliveira.

Rafael fala das duas principais questões respondidas pelos religiosos durante o encontro, que foram “Como sua casa responde à questão da violência contra a mulher?” e “Como, a partir dos mitos, sua nação de candomblé enxerga o problema?” A primeira questão desembocou num debate mais amplo sobre como encaminhar de forma mais eficaz os casos de violência contra a mulher - denunciando e contando com os serviços públicos de atendimento – e enfrentar a reprodução das relações de gênero desiguais. A segunda foi unanimemente respondida com os participantes ressaltando que nada nas diferentes formas de culto justifica a violência contra a mulher e não há, em qualquer nação, mito que aponte para a subordinação feminina como princípio.

Lindinalva de Paula, da Rede de Mulheres Negras da Bahia participou do evento. Ela  convidou os presentes a participarem da Marcha das Mulheres Negras, que acontecerá no dia 13 de maio de 2015, em Brasília (DF). A ativista ressaltou o aspecto multifacetado da violência de gênero.

“Violência contra a mulher não é só soco no olho. Não devemos nos limitar a perceber a violência física. Existe a psicológica, moral... A sociedade distribui funções e muitas vezes isso é reproduzido no contexto religioso, quando segundo a tradição do candomblé as pessoas devem cuidar de toda a comunidade, ao invés de determinar a subordinação das mulheres”, destacou.

A reunião, que começou com uma apresentação dos alunos de dança do terreiro Kalé Bokun, parceiro do projeto Axé com Arte, terminou com um número dos alunos da oficina de berimbau da Casa Branca, outro terreiro parceiro do projeto.




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