Axé com Arte
logo

Notícias

Na última Reunião de Terreiros...

15/05/2015

Há algum tipo de fundamento nas religiões de matriz africana para a violência contra as mulheres? Não. Essa foi a resposta de filhos de santo e lideranças de cerca de 60 casas de diferentes tradições de matriz africana, reunidas em Salvador (BA), no dia 9 de maio, no Encontro de Terreiros.

Promovido por KOINONIA o evento teve como objetivo construir consensos sobre como os povos de terreiro se posicionam, principalmente, em relação à violência contra a mulher. Após debates sobre as possíveis leituras da desigualdade de gênero da perspectiva dos religiosos, seus representantes confirmaram que não há nada nas tradições de matriz africana que possa justificar a violência.

Mesmo com a chuva que castigava a capital baiana, quase 80 pessoas compareceram para deixar o recado dos terreiros que dizem não à desigualdade e à violência contra a mulher. O encontro proporcionou ainda momentos de reflexão sobre como esse fenômeno da sociedade brasileira tem se refletido nos terreiros e como estes têm respondido. É também o que destacou Iraildes do Nascimento, do Ilê Axé Opo Afonjá. “Acho que essa foi uma oportunidade de aprofundar a discussão, para falar dos diferentes aspectos da violência contra a mulher, não só a agressão física. Isso é importante para que as pessoas ampliem a percepção do que consideram violência”, destaca.

O encontro é parte de um processo que deve culminar com a produção de um posicionamento público dos terreiros sobre o tema. Para isso, recuperou-se a memória da reunião anterior que também tratou, com homens e mulheres de diferentes nações do Candomblé, da questão da desigualdade de gênero.

Para o diretor executivo de KOINONIA, Rafael Soares de Oliveira, a violência contra a mulher tem se articulado com a intolerância religiosa, agravando uma situação que já merece atenção.

“KOINONIA tem como tradição criar espaços de diálogo entre as diferentes nações do Candomblé. Já produzimos dois livros que registram esse tipo de produção de saber e de posicionamento que vêm dos consensos estabelecidos nesses momentos. Antes a ênfase era enfrentar a intolerância, agora passamos a tratar da presença do povo de terreiro frente a outras questões importantes. Há casos recentes em que, por exemplo, a bíblia é usada para justificar a violência. Sobre a violência contra a mulher, cabe destacar o não peremptório a qualquer justificativa religiosa ou teológica para a violência contra a mulher”, ressalta.

No Brasil, a Bahia é o sexto estado em mortes de mulheres, de acordo com o Mapa da Violência 2015. No estado, a cada 100 mil mulheres, mais de seis são assassinadas em um ano. O dado mostra a necessidade de os diferentes setores da sociedade - inclusive religiosos - se mobilizarem politicamente para enfrentar o problema.




« Voltar