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“A Bala não Escolhe sua Fé”

19/11/2015

A Bahia registra taxa de homicídios mais alta do que a de países com histórico de guerra civil. Os jovens negros estão entre os grupos mais severamente impactados pela violência, ao mesmo tempo em que são os alvos preferenciais do vigor punitivo do Estado e de parte da sociedade (que tem, por exemplo, reivindicado a redução da idade penal).

“A Bala Não Escolhe Sua Fé – Encontro Inter-religioso de Juventude” reuniu, entre os dias 6 e 8 de novembro, representantes de diferentes tradições para, a partir de um olhar religioso, contribuir para o enfrentamento do genocídio da população jovem e negra. O evento aconteceu na Fundação Terra Mirim, em Simões Filho (BA) e contou com o apoio da Fundação Heinrich Böll e da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese).

O encontro começou com um debate provocado pela exibição de “O Estopim” (2014), documentário de Rodrigo Mac Niven, que conta a história do caso Amarildo, no Rio de Janeiro, e das mobilizações desencadeadas a partir daí. O filme trouxe para a discussão questões como a responsabilidade de toda a sociedade e instituições na promoção do direito à vida e de como a produção do discurso do medo acaba fortalecendo a ideia de que intensificar a violência é a solução para problemas sociais com profundas raízes históricas.

Para o batista Tárcito Fernando,  que é assistente de projetos de KOINONIA e mobilizador da atividade, no encontro a diversidade foi tão importante para a troca, que as apreensões quanto a possíveis diferenças foram rapidamente deixadas de lado. “Chegou um momento em que não sabíamos mais quem era de qual religião. A dinâmica mais livre acabou possibilitando isso, porque ao invés de mesas propusemos que se formassem rodas onde os jovens iam primeiro descobrindo afinidades para depois tocar na questão do pertencimento religioso de cada um. O método enriqueceu bastante as trocas”, avaliou.

Mas o destaque de “A Bala não Escolhe sua Fé” foi a roda de diálogo temática “Mídia como perpetuadora do genocídio da juventude negra e apoiadora da política de redução da maioridade penal. Há outra mídia?”. Brenda Gomes, do Coletivo Sarau da Onça, foi uma das convidadas a estimular essa discussão. Ela falou de sua experiência juntando mídia livre e arte em periferias urbanas, ressaltando a importância da multiplicação desse tipo de ação.

“A comunicação é um forte aliado na luta contra o genocídio da juventude negra. A juventude precisa se ver como protagonista da própria história. Histórias de possibilidades, de sonhos alcançados, não só de tristeza e dor. Minha luta como comunicadora negra e de uma dessas periferias é para que essas histórias virem nossas pautas. É necessário que o debate seja feito dentro dos grupos de igrejas, terreiros e todos os centros religiosos”, destacou.

Apesar de ter sido um encontro de fato inter-religioso, as discussões giraram sempre em torno do problema do genocídio da juventude negra. Isto é, a partir da perspectiva de cada tradição, os participantes foram construindo consensos e fortalecendo a percepção de que um desafio comum se sobrepõe a qualquer possível diferença: a luta pelo direito à vida de jovens negros e negras.
 




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